Déficit de 0,1%: crise fiscal é ficção
Estimativa do governo é de ter fechado 2024 com déficit primário de 0,1%, o que mostra que crise fiscal é ficção para abocanhar o dinheiro público
No finalzinho do ano, o Governo Federal refez as contas e estimou que o déficit primário de 2024 ficará em 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme informou o jornal O Globo. É quase zero, como prometido quando implantado o calabouço fiscal, e bem abaixo da previsão do mercado financeiro no início de 2024, quando o Boletim Focus projetava déficit de 0,8%.
Por que, então, o mercado ficou alvoroçado no final do ano passado, quando ainda se esperava um déficit primário na casa de 0,5%, quase metade do estimado no início do ano e, naquele momento, ninguém falava em crise fiscal?
Porque a crise fiscal não existe, é uma ficção inventada pelo mercado e propagandeada pelos meios de comunicação a seu serviço. O objetivo é, como já demonstrado pelo economista Ranulfo Vidigal, abocanhar uma fatia maior do fundo público.
O fantasma da crise fiscal serviu para reduzir o aumento do salário mínimo, cortar gastos sociais e elevar os juros. Tudo isso num ano em que a economia cresceu bem acima do previsto, o desemprego caiu para níveis recordes e a classe D/E migrou para a classe C, fazendo que mais da metade da população integrasse, em 2024, as classes C, B e A.
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O que deveria preocupar, e muito, é o déficit nominal – que inclui as despesas financeiras. No acumulado em 12 meses até novembro de 2024, o governo pagou de juros nominais R$ 918,2 bilhões (7,85% do PIB), comparativamente a R$ 713,4 bilhões (6,56% do PIB) em igual período de 2023.
O déficit nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, alcançou R$ 1,111 trilhões (9,50% do PIB) em 12 meses até novembro de 2024, ante déficit nominal de R$ 1,093 trilhões (9,42% do PIB) acumulado até outubro de 2024. O mercado financeiro previa, no início do ano passado, déficit nominal de 6,80% do PIB em 2024. Turbinado pelos juros, o valor disparou, mas nem por isso o mercado fez escândalo; ao contrário, defendeu mais juros.
Dez calotes na dívida e 22 pedidos de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa é a Argentina, que se tornou a queridinha dos mercados financeiros internacionais depois que Milei assumiu a Presidência, 13 meses atrás. Ele reduziu a inflação e o déficit público, mas ao custo de recessão, desemprego e pobreza.
Claro que, num país assim, o mercado pode ganhar muito dinheiro – mas também já perdeu muito. Não importa. A empolgação com a Argentina tem na ideologia o principal fator. É o mesmo mercado que diz que os investidores estão apavorados com o Brasil.
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