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Pedro Augusto Pinho
Administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).

Ideias para adiar o fim do mundo: Vocalização

Publicado em 06/10/2022
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1968 foi ano marcante para a derrocada dos “30 gloriosos” franceses e a ascensão neoliberal.

Foi também o despertar para as crises do petróleo, desencadeadas com déficit de oferta, os processos de nacionalizações e de toda série de conflitos envolvendo Israel, os Estados Unidos da América (EUA) e os produtores árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), como a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra do Yom Kipur (1973) – 1º oil shock, e a revolução islâmica no Irã (1979) – 2º oil shock.

A comunicação passou por intensa revisão, quer pelo ingresso de tecnologias, quer pelos questionamentos éticos. O editor de Notícias do Jornal de Brasil, Luiz Orlando Carneiro, assim se expressou – “Imprensa, mito e crise”, no “Cadernos de Jornalismo e Comunicação”, nº 12, julho de 1968, editado pelo Jornal do Brasil (RJ):

“A recente crise francesa, a ascensão das minorias violentas em todo mundo, a rebelião negra e a onda de assassinatos nos Estados Unidos colocaram dramaticamente em questão a influência – e mesmo o domínio – que os veículos de comunicação de massa exercem sobre a consciência coletiva, e sobre as atitudes pessoais de grupos e comunidades políticas, sociais e religiosas”.

Também se comemoravam 20 anos do lançamento, em Paris, da obra referencial do matemático estadunidense Norbert Wiener, “Cybernetics or Control and Communications in the Animal and the Machine”.

Hoje não há dúvida que as finanças ocupavam, já com Lyndon B. Johnson (1963-1969) e, especialmente, com Richard M. Nixon (1969-1974), importantes posições no governo dos EUA. E que muitos eventos, que pareciam ter surgido espontaneamente, foram minuciosamente programados pela Agência Central de Informações (CIA, em inglês), pela Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês), pelo israelense Mossad e pelos órgãos financeiros estadunidenses, britânicos e internacionais, como o Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia (Suíça).

Assim, a palavra comunicação entra para as “Palavras-Chave”, de Raymond Williams (tradução de Sandra Guardini Vasconcelos, para Boitempo, SP, 2007).

Comunicação vai além do animal e máquina de Wiener, para as ferrovias e estradas, a imprensa e radiodifusão, para compartilhar e bisbilhotar. E informação passa a ser a tecnologia em expansão, também para espionagem e golpes de Estado.

Diante desta variedade, optamos por vocalização. Sendo humano é também da sociedade, exige quem emita e quem receba o som, o balbucio. Não se pensará na CIA nem nos computadores, nas transferências de valores nem no tráfico pelas estradas.

O que é a Vocalização?

É a possibilidade do cidadão se expressar para os demais e para as Instituições da sociedade e ter deles resposta ou ações. É o diálogo em toda amplitude: das múltiplas expressões (sonora, visual, impressa, virtual, eletrônica) abertas ou dirigidas, dos entendimentos, do debate, e das consequências. Vocalização é comunicação, informação e responsabilidade.

Assim, a vocalização é parte da SOBERANIA, quando, por exemplo, trata da defesa do Estado ou da integração do País, é parte da CIDADANIA, quando denuncia a pedagogia colonial e permite a intensa participação popular das decisões do Estado, e tem seu lugar próprio, como discorremos neste artigo.

Em 1962, na Abadia de Royaumont, monumento histórico a 30 km de Paris, ocorreu importante encontro de pensadores e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para tratar do tema comunicação, no Colóquio em homenagem a Norbert Wiener. A cibernética e a teoria dos sistemas mostravam que havia diálogo, antes inimaginável, da história com a matemática, da pedagogia com a literatura, da filosofia com a física. Os participantes estavam lá para demonstrar que a teoria matemática da comunicação era o elo do conhecimento contemporâneo (“Le concept d’information dans la science contemporaine”, Cahiers de Royaumont, Les Éditions de Minuit/Gauthier-Villars, Paris, 1965).

O jesuíta Gaston Fessard participou intensamente dos debates em Royaumont, de quem retiramos as considerações sobre a eficiência da mensagem.

As máquinas de calcular eram conhecidas desde o ábaco, datado de 5500 a.C., usados pelos povos da Mesopotâmia. Em 1837, Charles Babbage lançou nova máquina, chamada de Engenho Analítico (Máquina Analítica), que aproveitava experiências como o uso de cartões.  Com conceitos do matemático George Boole, Hermann Hollerith, 1890, desenvolve a máquina que acelerou todo o processo de computação de dados e funda a empresa que, em 1916, terá o nome alterado para Internacional Business Machine, a mundialmente famosa IBM.

A partir de 1946 tem início a era dos computadores: primeira geração até1959, segunda geração (1959-1964), terceira geração (1964-1970), quando sofrem a grande transformação dos microprocessadores e computadores pessoais. Hoje os celulares são bisnetos das Holleriths.

Padre Fessard questiona o objetivo das mensagens.

O poder na fase das guerras mundiais passa a ser da industrialização, preocupada com os custos, no sentido amplo, do trabalho, e foca seu uso na substituição dos homens pelas máquinas. Disso decorre toda a via da robotização. Mas o poder derrotado nestas guerras, o financeiro, caminha no sentido da instantaneidade da mensagem e nos seus aspectos psicossociais. É o que permite estar quase simultaneamente em todo mundo e alterando comportamentos. Esta compreensão antevista por Fessard, dá, a partir de 1990, o poder às finanças, ao neoliberalismo, e toda mudança que a sociedade passa a viver.

“The Human Use of Human Beings” (“O uso humano de seres humanos”) é o segundo livro de Norbert Wiener, publicado em 1950 e revisto em 1954. E o Diretor do Laboratório de Máquinas Matemáticas do Instituto Blaise Pascal (1938-1960), Louis Couffignal usa para subtítulo em “Les Notions de Base” (Gauthier—Villars, Paris, 1958), como transcrevemos em tradução livre:

“a linguagem é a mais específica e bela criação humana, que a teoria das redes elétricas pode permitir a construção de linguagem universalmente aceitável e que as modernas facilidades de comunicação de ideias devem necessariamente provocar a constituição de um Estado Universal”.

Vemos tudo que nos incomoda, revolta e prejudica, com a apropriação das finanças apátridas desta evolução tecnológica.

Não se pode promover um desenvolvimento sem política, e a política tem que ser construída a partir da cultura dos povos, da evolução das sociedades, que não dá saltos, como eventualmente pode ocorrer com a ciência e as técnicas.

Daí que a comunicação precisa estar subordinada não a um Estado Universal, na frase de Couffignal (“la constitution d’un État Universel”), que não é do povo, Tal Estado será, inevitavelmente, de um grupo, de uma única ideia, seja ela humanitária ou anti-humana, em outras palavras, tenha origem numa ideologia de bem-estar ou felicidade geral, como as religiões pregam em princípio, seja de tirania colonial, da unipolaridade, como das finanças. A comunicação está subordinada ao Estado Nacional, único capaz de abrigar a manifestação livre e consciente de todos.

Recordemos J.G. Fichte (“Fundamentos do Direito Natural segundo os Princípios da Doutrina da Ciência”), citado no primeiro artigo – SOBERANIA, que, mesmo adotando o direito natural, tem proposta contratualista: se os Estados são completamente iguais entre si, eles podem garantir-se uns aos outros, formando uma confederação, ou, na linguagem hodierna, o mundo multipolar.

Para “adiar o fim do mundo” é preciso participar das decisões e, para participar das decisões é preciso ter informações dos sistemas de instrução, das ocorrências, das interpretações e das reflexões sobre a própria vida, esta é a relevância da VOCALIZAÇÃO para o Estado Nacional.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, presidente da AEPET.

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