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Felipe Maruf Quintas
Felipe Maruf Quintas
Felipe Maruf Quintas é Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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Pedro Augusto Pinho
Administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).

Brasil em tempo de crise – Nacional trabalhismo hoje

O Brasil vivia na República Velha o embate entre a manutenção do poder fundiário e as tentativas de industrialização, sempre derrubadas no período do Império.

Publicado em 26/07/2023
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No alvorecer do nacional trabalhismo, como já lemos nas páginas do Monitor Mercantil, o Brasil, por muitos de seus dirigentes e influentes cidadãos, era considerado “um país eminentemente agrário”.

Muito mais do que uma razão econômica, esta pregação ideológica voltava os olhos para o início da colonização, quando 14 proprietários eram os “donos” do Brasil, e com direitos hereditários, ou seja, a permanência dos impérios europeus anteriores às revoluções francesa e a primeira industrial, apenas sob as novas regulações.

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Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina (1971), precisa sobre a preservação dos latifúndios, tônica da política fundiária brasileira, com seus alicerces fincados no processo de colonização, mantendo a concentração de terras nas mãos de poucos, desde a descoberta do país. Era muito mais uma questão de poder – local associado ao estrangeiro – do que a economia de exportação que nos mantinha no atraso.

A industrialização necessitava mercado consumidor, que um país escravocrata não teria construído. A libertação legal dos escravos foi um passo para sua criação, mas faltavam empreendedores, que surgiram com os emigrantes europeus, asiáticos e mesmo estadunidenses. Porém a força política e a pressão social formavam empecilhos para o sucesso da industrialização.

É a Revolução de 1930 que abrirá o cenário deste novo Brasil, com a ideologia nacional trabalhista. E, como sabemos, teremos, apesar das muitas lutas e oposições, com ações do retrocesso doméstico e de interesses estrangeiros, nossos 50 anos gloriosos, a Era Vargas.

O mundo das últimas décadas do século 20 não era mais das fontes de energia que possibilitaram as I e II Revoluções Industriais – carvão mineral e petróleo – era, na expressão do gênio Darcy Ribeiro, o mundo termonuclear.

Porém outra grande e profunda mudança fora introduzida na sociedade: o processo de comunicação, que sai do mundo eletromecânico para o eletrônico e do real para o virtual.

Por conseguinte, o nacional trabalhismo do século 21 manterá os mesmos valores da nacionalidade e do trabalho, porém nas condições sociais, econômicas e tecnológicas atuais e com vistas ao previsível futuro.

É necessário, no entanto, esclarecer as questões de tempo e lugar. Certa vez, respondendo à questão sobre o subdesenvolvimento brasileiro, o professor Candido Mendes de Almeida enunciou:

É a contemporaneidade do não coetâneo.

Fez sucesso, embora não fosse inteiramente verdadeiro. O Brasil é país imenso, diversificado nas condições físicas, e nas características das sociedades regionais.

Também, se tomarmos, por exemplo, a influência das religiões em grupos sociais, veremos que as vidas em localidades inglesas, alemães, na avançadíssima Cingapura, apresentam diferenças facilmente observáveis. E não se diga que são decorrências de recursos financeiros.

Muito mais do que tempo, lugar e recursos, as sociedades absorvem influências de toda natureza que criam pequenas homogeneidades.

O nacional trabalhismo não é a vara de condão, o passe milagroso ou mágico que transformará todo o Brasil, no mesmo instante e em todos os rincões, no paraíso terrestre. É um pensamento político que prioriza o nacional ao estrangeiro, em todas as dimensões, e o trabalho, como escreveu Alexandre Herculano (História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1864), “a única fonte legítima de toda propriedade”.

É sobre estas condições e paradigmas que desenvolveremos este artigo.
O nacionalismo – A energia

O nacionalismo deve ser observado sobre o aspecto da soberania e da defesa nacional e, igualmente, sobre a construção da sociedade com valores harmonizados no cotidiano da vida, de norte a sul, de leste a oeste, que faz o brasileiro se sentir igual por todo território nacional.

Porém, a fonte de energia mais barata e mais eficaz ficou, por caprichos da natureza, fora dos países colonizadores, das grandes potências do século 20. As maiores reservas de petróleo situam-se, neste alvorecer do século 21, no Oriente Médio, na Federação Russa e na América do Sul.

A mais moderna fonte de energia produz também a mais destruidora arma bélica: a bomba atômica.

Por conseguinte, o poder mundial que luta para ser o único, o global, que é o financeiro, enunciador do decálogo socioeconômico denominado “Consenso de Washington”, por diversos e nem sempre cientificamente corretos e éticos meios, procura deslocar o petróleo, por questões climáticas, das energias utilizáveis e a termonuclear, por restrições tecnológicas, de serem universalmente disponíveis.

Assim, o planejamento e controle nacional das fontes de energia, ou do uso das energias, são atual condição de soberania. Isso fica ainda mais evidente com as ações das Organizações Não Governamentais (ONGs) voltadas para o meio ambiente, que insistem em disciplinar o uso das energias em todos os países, especialmente os que não abrigam sedes financeiras importantes (Nova York, Londres, Zurique).

Veja-se o caso de Cingapura, que tem dos maiores consumos de energia per capita do Planeta. Quase toda fonte de energia primária vem dos combustíveis fósseis importados (96,5%), que com a biomassa (2,3%) e a energia solar (1,2%) produzem toda energia elétrica necessária ao País e geram pequena sobra para exportação. A administração deste suprimento energético é monopolista, por conglomerado financeiro, que também administra a petroquímica, seguros e outras atividades no País. Mesmo para um país que tem na livre iniciativa e na abertura internacional para negócios seu mais divulgado sucesso econômico, a energia é gerida por monopólio, regulado pelo Estado.

Cada vez mais a energia passa ao controle estatal pela importância para a sociedade humana. Recentes reestatizações ocorreram em todo o mundo, direta ou indiretamente envolvendo a energia. As falácias das energias “limpas”, “não poluidoras”, já desmentidas em estudos sobre as energias eólicas, por exemplo, são todas elas muito mais onerosas do que o petróleo, para os consumidores finais, e exigem ação do poder público, que representa verdadeiramente a Nação.

O Brasil é rico em todas as fontes de energia: a fóssil, com a autossuficiência em petróleo, no mínimo dos 100 anos; a hídrica, com o manancial de rios por todo território nacional; com as terras férteis para produção da energia da biomassa; e com insolação permanente, a dificuldade europeia, por exemplo, para garantir o suprimento de energia solar.

No entanto, falta ao País governo nacionalista. Os últimos governantes, até explicitamente, diziam defender o “mercado”, uma entidade sem pátria, sem responsável, que domina, hoje pelas finanças apátridas, o poder público brasileiro. A ideologia nacional trabalhista, inteiramente desenvolvida no Brasil, deve fornecer os recursos teóricos para os projetos governamentais do presente e do futuro.
O trabalhismo – A comunicação

O que ainda há poucas décadas se entendia por cidadania: um conjunto de ações do Estado que garantiria a vida digna para todos os habitantes, como saúde, educação, habitação, mobilidade urbana, garantia dos direitos e vocalização, foi transformada pela pressão da comunicação virtual.

O fácil acesso ao equipamento básico para transmissão de informações – o celular –, a proliferação de canais de convivência e de notícias formadoras de conceitos sobre todos assuntos, sem qualquer responsabilidade legal e científica pela veracidade, tornou imperiosa a ação garantidora da vida do povo com a interferência neste sistema de comunicação.

Os detentores dos equipamentos e dos sistemas de comunicação, todos residentes no exterior e servindo ao processo de dominação e colonização dos brasileiros, fazem campanhas com corrupção, chantagem, desinformação, para tirar do controle nacional a garantia da informação e que esta atue em favor da educação e da consciência do povo. Dizem tratar de censura quando são eles, na verdade, quem, com desinformação, calúnias e campanhas, fazem, no mínimo, criar dúvida quando se trata de ação em prol do Brasil e dos brasileiros.

O domínio nacional das comunicações até já existiu no Brasil e foi responsável pela existência dos 50 anos gloriosos de desenvolvimento econômico e social.

Foi graças à exclusiva propriedade de brasileiros e à ação do Estado, com emissoras de rádio e de veículos de comunicação impressos, ao lado da educação laica, pública, gratuita e universal, que se pôde formar a consciência nacional e os dirigentes que conduziram o Brasil ao melhor momento de sua História: a Era Vargas, quando prevaleceu a ideia do nacionalismo e da valorização do trabalho como fonte de riqueza.

No entanto, as finanças apátridas com seu processo corruptor invadiram o Brasil e tomaram o controle do denominado processo de redemocratização, lançando-nos na escravidão da informação falsa e dirigida, com todas as consequências de retrocesso do poder nacional que assistimos nos últimos 35 anos.

O que são, por exemplo, a transferência do trabalho de gerações de brasileiros na área da mineração para construir a Vale do Rio Doce, entregue pelo lucro em cinco anos para empresa estrangeira? Ou o esforço intelectual e financeiro de se construir uma Embratel, uma Telebrás, hoje desativadas ou controladas por capitais financeiros apátridas, residentes em paraísos fiscais? Ou as subsidiárias da Petrobrás: a Distribuidora, a Petrofértil, a Petroquisa, a Petromisa, a Interbrás, a Braspetro, todas alienadas ou desativadas para favorecer o capital financeiro alienígena? E, o que é mais grave, a entrega de reservas de petróleo, descobertas com tecnologia nacional e trabalho de 70 anos de brasileiros, a capitais apátridas, com único interesse nos lucros da produção de óleo e gás, inclusive exportando para o exterior, deixando o Brasil com ridícula relação de energia per capita, inferior à média asiática, à Venezuela, à Argentina, Chile, Turquia, Grécia, Portugal, que nem tem petróleo, e dezenas de outros países.

E por que ocorreram e ocorrem estes crimes contra a Nação e o povo brasileiro? Pela desinformação, pelas falácias, mentiras, engodos que todos, rigorosamente todos, recebemos todos os dias e em todo momento das estrangeiras detentoras dos sistemas de comunicação virtual.

E observe, caro leitor, quando se trata de colocar um entrave à difusão de informações que são reconhecidamente falsas – as fake news – logo se levanta um clamor (e uma chantagem, corrupção, as armas das finanças) para intimidar os parlamentares e impedir a aprovação da lei, que irá, muito suavemente diante da imensidão do crime, nos proteger, principalmente os menos instruídos, das mentiras intencionais das comunicações de instituições apátridas.

O desenvolvimento econômico e social que o pensamento nacional trabalhista nos proporcionou no século 20 estava assentado nas revoluções industriais. O do século 21 no planejamento e controle dos recursos energéticos e das comunicações; a revolução termonuclear cibernética.

Felipe Maruf Quintas é doutor em Ciência Política.

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

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