
Só é amplo quem é radical
Não se dilui a própria posição com concessões inexplicáveis. Ao contrário.
1. GLAUBER BRAGA SÓ OBTEVE a magnífica vitória contra a direita e a extrema-direita, amplamente majoritárias no Congresso, por ter se negado a recuar e a negociar antes da hora. Vamos lembrar: ao ser condenado a perder o mandato em decisão da Comissão de Constituição e Justiça, em abril deste ano, o parlamentar iniciou uma greve de fome de nove dias. O gesto, tido como impensado por muita gente – inclusive por este que escreve -, alterou prazos do processo, com enorme impacto na opinião pública.
2. ÀS VÉSPERAS DA VOTAÇÃO em plenário, na terça (9), sob o risco de perder o mandato, o parlamentar partiu para outra ousadia: tomou a cadeira da presidência da Câmara por pouco mais de uma hora. Hugo Motta titubeou e, num gesto de soberba e ignorância, chamou a polícia legislativa, que retirou Glauber com truculência, expulsou a imprensa do plenário e cortou o sinal da TV Câmara. Em aliança tácita com as big techs, os perfis de várias lideranças de esquerda foram apagados dos buscadores de redes sociais. Motta mostrou o muque, num gesto amadorístico que corroeu sua imagem. O estúpido foi além e comandou a inglória batalha da anistia, agora sob o pomposo neologismo de "dosimetria".
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3. O COMANDO TROGLODITA do novo golpe parlamentar – Motta, Lira, Alcolumbre etc. - amanheceu na quarta (10), o dia da "cassa", sujo como pau de galinheiro diante da opinião pública. A esquerda e o progressismo se unificaram, embora sejam minoritários nas duas casas legislativas.
4. A PARTIR DAÍ, A NEGOCIAÇÃO de PSOL, PT, PCdoB e outros setores partidários com Hugo Motta foi feita a quente. Ou seja, de forma distinta ao toma-lá-dá-cá palaciano e na surdina que marca as tratativas do governo Lula com o Congresso. Embora não tenha havido mobilizações de massa nas exíguas 48 horas entre o anúncio da entrada da matéria em pauta e sua votação, o impacto midiático pode ter feito a reação recuar. Foi nessas condições que se chegou à punição da pena de seis meses, sem perda de mandato. Nas condições atuais e diante da omissão do presidente da República, a suspensão foi uma vitória e tanto.
5. A CASSAÇÃO DE GLAUBER – uma vingança pessoal de Arthur Lira diante das denúncias do orçamento secreto feitas pelo psolista – mostrou-se nada interessantes para setores da direita e da extrema-direita. A intervenção de Zé Trovão (PL-SC) foi eloquente: “Quem foi eleito por milhares de pessoas não pode ser cassado por alguns deputados. Se for assim, hoje é Glauber e amanhã é qualquer um de nós”. A banalização da perda de mandatos assusta quem pode ter telhado de vidro. A métrica valeu para Carla Zambelli (PL-SP)
6. A POSSÍVEL DERROTA do parlamentar de esquerda – quase certa na terça - gorou na quarta. Desaba espetacularmente um dos mantras do lulismo, que serve de justificativa para todo tipo de hesitação e recuo: acabou a conversa fiada da "correlação de forças" como dado da natureza! E Glauber Braga e seus apoiadores mostraram que, diante de um inimigo mais forte, não se dilui a própria posição com concessões inexplicáveis. Ao contrário. Vale sempre lembrar da frase atribuída a Lênin, “Só é amplo quem e radical”. A esquerda foi ambos nessa quarta-feira nervosa.
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