
Data centers: o alumínio do século 21?
Governo quer atrair data centers, que já usam tanta energia como Alemanha, repetindo erros do alumínio na década de 1970
O governo brasileiro resolveu que o País deve atrair data centers. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi aos Estados Unidos vender as vantagens de instalar os centros aqui e relacionando o movimento a desenvolvimento tecnológico brasileiro. Os data centers são grandes sorvedores de energia, e o governo vende isso – energia renovável proporcionalmente barata – como vantagem. O que nos faz lembrar da produção de alumínio por aqui.
O Brasil tem bauxita e alumina, mas o grande diferencial na década de 1970/80 era a energia hidrelétrica barata. Calcula-se que energia é 70% do custo da produção de alumínio. Nas 5 décadas posteriores à de 1970, a produção de alumínio cresceu 18x, segundo a associação do setor (Abal). O que transformou o País num grande exportador da commodity, enquanto aplicações tecnologicamente mais sofisticadas são realizadas no exterior – as bobinas usadas para fazer as chapas de alumínio que imprimem os jornais, por exemplo, vêm de fora, muitas vezes usando a matéria-prima aqui produzida.
Não quer dizer que a indústria do alumínio não tenha importância: dados da Abal de 2023 mostram que contribuiu com 5,6% do PIB industrial brasileiro e gerou mais de 511 mil empregos.
Receba os destaques do dia por e-mail
Texto do Fundo Monetário Internacional (FMI) revela que os data centers do mundo consumiram até 500 terawatts-hora de eletricidade em 2023, citando estimativa anual mais recente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Esse total, que foi mais que o dobro dos níveis anuais de 2015 a 2019, pode triplicar para 1.500 terawatts-hora até 2030, segundo projeções da Opep.
A eletricidade usada apenas pelos data centers, que já equivale à da Alemanha ou da França, seria, até 2030, comparável à da Índia, o 3º maior consumidor de eletricidade do mundo (o Brasil era o 6º país em 2023). O consumo dos data centers superaria o projetado por veículos elétricos, consumindo 1,5 vez mais energia do que os VEs até o final da década.
Em comparação com os países desenvolvidos, o consumo de energia per capita no Brasil ainda está bem abaixo; em 2022, o consumo médio brasileiro foi de 2.362 kWh, enquanto o chinês foi de 5.885 kWh/habitante, e o estadunidense, de 12.154 kWh. A média global é de 4 mil kWh/habitante.
Perguntas: a atração de data centers traria alguma vantagem? Qual o desenvolvimento tecnológico? Estaria o Brasil, uma vez mais, “exportando energia”?
Fonte(s) / Referência(s):
Gostou do conteúdo?
Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.