Educação, paz e desenvolvimento: os modos de usar
O que significa educar? A que universo social se insere? Quem deve ser responsável pela sua efetividade?
Questões como estas, e outras mais, deveriam ser iniciais ao se discutir o que, como e quando educar.
O mundo dito global trouxe uma série de aporias, os ser ou não ser na educação. Educa-se para homogeneizar o ser humano ou individualiza-lo? Estaria o neoliberalismo construindo o “Admirável Mundo Novo”, com “Gamas”, “Deltas” e mesmo “Ipsilones” (Aldous Huxley, “Brave New World”, 1932)? Ou promovendo a consciência da sociedade? A efetiva humanidade?
A educação no Brasil ocorreu contra o interesse do patronato, daquela minoria que sempre buscou impedir a formação do saber e, consequentemente, da consciência do ser. É até irônico constatar que muitos filhos do patronato foram alfabetizados por escravos islâmicos, pois a educação dos jesuítas não atingia todo, nem a maior parte do território nacional.
Foi com Getúlio Vargas, vencedor da Revolução Soberana de 1930, que, apenas 11 dias de sua investidura como Presidente do Governo Provisório, emite o Decreto nº 19.402, em 14 de novembro de 1930, criando o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública.
Pela primeira vez na História do Brasil, o Estado Nacional reconhece sua responsabilidade com a formação de todos os brasileiros, como a Constituição Castilhista, no Rio Grande do Sul, em 1891, já dispunha no artigo 71 § 10: “Será leigo, livre e gratuito o ensino primário ministrado nos estabelecimentos do Estado”.
Mas permanece a questão do que seja educar.
Os jesuítas chefiados por Manoel da Nóbrega, chegando ao Brasil com o 1º Governador Geral, vendo o Estado ausente em diversas áreas de gestão e, com a ideia de escravizarem os gentios pela doutrinação, assumiram a educação e a comunicação. Tanto se enfronhou na educação que manteve o Estado dela afastado até a República. Com isso, a educação no Brasil voltou-se para a erudição, para a cultura de salões, impedindo o desenvolvimento produtivo e a industrialização. Éramos a terra dos bacharéis e a tal ponto que, no início da República, havia os militares ‘bacharéis”, os “científicos”, só não havia os combatentes, os estrategistas, aqueles que propriamente exerciam funções militares.
No lado civil, havia a imensa lacuna de escolas e professores. Em meados do século XX, metade da população brasileira era analfabeta. E isso provocava, não apenas a ignorância política, a falta de respeito próprio, como a facilidade de serem iludidos e não constituírem efetivos cidadãos.
A necessidade da industrialização provocou a criação de escolas que, na verdade, eram produtoras de mão de obra, adestradas para as funções demandadas pelas fábricas, especialmente nas regiões sudeste e sul do País.
Continuamos, com as exceções notáveis empreendidas por Leonel Brizola, governador no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, não educando para a cidadania brasileira.
A chegada do neoliberalismo, com a ideologia da globalização, piorou ainda mais nosso sistema, afastando o educando da realidade nacional, por uma universalidade inexistente.
É oportuno e importante transcrever de dois antropólogos franceses, R. Portères e J. Barrau, estudiosos da formação das sociedades africanas, o que deixaram registrado:
“Mesmos nas épocas pré-agricolas e nos períodos iniciais da agricultura, os homens levaram consigo, nas migrações ou deslocamentos, seus instrumentos, técnicas, modos de compreender e interpretar o ambiente, maneiras de adaptar e utilizar o espaço, etc. Carregavam também toda uma série de atitudes e comportamentos criados a partir de suas relações com a natureza em seus habitats originais” (“O meio ambiente a as origens da agricultura africana”, em “Origens, desenvolvimento e expansão das técnicas agrícolas”, no I volume – Metodologia e pré-história da África, da História Geral da África, produzida pela UNESCO, 1980).
Como ensinar para ser “cidadão do mundo” sem que a pessoa entenda seu próprio ambiente? Os recursos e as dificuldades de seu desenvolvimento? O ensino promovido pelo neoliberalismo é mais uma forma de alienação da pessoa, da sociedade e das suas necessidades e possibilidades.
Façamos do Dia Internacional da Educação verdadeiro momento de afirmação nacional, de luta pela educação que sempre começa em casa, senão a paz e o desenvolvimento só representarão a submissão, a espoliação, resumindo: a escravidão.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
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