O dia seguinte ao Covid 22
(AEPET Diário, 20/10//2022) e “A Soberania e as Finanças Globais” (AEPET Diário, 21/10/2022) mostramos o Brasil no processo de autodestrui
(AEPET Diário, 20/10//2022) e “A Soberania e as Finanças Globais” (AEPET Diário, 21/10/2022) mostramos o Brasil no processo de autodestruição, conduzidos por elites ignorantes, insaciáveis, edazes e onzeneiras, a serviço dos capitais apátridas e marginais.
Parte desta elite viu a morte se aproximar e aliou-se, como nos exemplos históricos do capitalismo, ao povo, aos trabalhadores, e deste modo obteve a vitória. Repetiram a revolução francesa, o castilhismo, a revolução soberanista de 1930 e a redemocratizadora de 1988. Mas, para todos nós que vivemos do trabalho, aplica-se o tradicional slogan: a luta continua. Pois somente participando diretamente das decisões, o povo, o trabalho, será reconhecido.
Esta luta precisa objetividade quanto aos fins e meios. Destas condições trataremos neste terceiro e último artigo.
Um país só é soberano se os dirigentes também sofrerem as mazelas da situação colonial. Ora, se os dirigentes constituem um pequeno grupo, a minoria absoluta da população, eles podem ser comprados, chantageados, corrompidos pois o proveito com a colonização do país será milhares, milhões de vezes superiores a estes gastos.
De acordo com as pesquisas domiciliares, as classes que ocupam direta e indiretamente o poder no Brasil representam menos de 16%. Isto significa que 84% dos brasileiros sofrerão com a colonização estrangeira, seja de algum país, seja, como demostramos nos artigos anteriores, pelo capital financeiro.
Com mais de 62,6 milhões de habitantes, a população da França é das maiores da Europa. A Bahia (564.733 km²) tem dimensão territorial semelhante à França, 643.801 km². No entanto é bem menos populosa: 15,13 milhões (IBGE, 2014).
Porém a grande diferença está na qualidade de renda e de vida. A renda per capita francesa é US$ 42.680 dólares, na Bahia, neste último ano, 2021, as políticas econômicas de Bolsonaro/Paulo Guedes promoveram a redução nominal de 12,6% (R$ 843), dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE.
Confrontando o Brasil com a França, as classes sociais, pelo critério de renda, são quase simetricamente opostas, pois a classe de renda mais baixa na França está próxima a 20%, o que no Brasil representa a soma das classes A, B e parte da C.
Cabe tratarmos da pedagogia colonial. Ela constitui a forma de dominação do consciente e da compreensão da realidade; é o primeiro e mais importante passo para a escravidão, para incompreensão do próprio ser e, com isso, agir contrariamente a suas próprias necessidades.
Pode um pobre, preto, desempregado votar na continuidade destes governos, deste sistema de poder existente no Brasil? Obviamente não.
Pode uma pessoa que vê departamentos, setores da empresa onde trabalha serem fechados, colegas dedicados ao trabalho, competentes serem demitidos, as receitas da empresa diminuírem e achar que o problema é Cuba ou está na Venezuela? Vai ser míope assim em outro mundo, porque neste você não percebe coisa alguma.
Mas o que ocorre nestes dois casos hipotéticos é a pedagogia colonial penetrando profunda nas pessoas. Se o Brasil não é um país soberano, não é por outra causa do que a elite dirigente estar voltada para atender a necessidade de outro país ou subordinadas a elites e sistemas estrangeiros.
A formação do pensamento próprio, da compreensão das necessidades específicas de seu viver e da existência autônoma do seu país é a cultura, ou seja, a relação dialética que estabelecemos com o meio onde nascemos. Em outras palavras, são as maneiras de convivência, ora enfrentando ora se aliando à natureza que nos cerca, isto é cultura.
E ela é própria de cada realidade física e humana. Vimos a França e a Bahia, espaços territoriais quase iguais, dotados de cursos de água bastante próximos, mas de climas, solos, recursos minerais e sobretudo de recursos energéticos bastante diferentes. São as diferenças e não as identidades que fazem surgir povos distintos, ainda que de idioma do mesmo tronco linguístico. Esta diferença além das elites, lá com interesses coletivos aqui individuais ou alienígenas, que resultam nos padrões de vida e sociedades desiguais.
O que verdadeiramente falta ao Brasil é ter elite com interesse nacional. No início desta série de artigos, mostramos que as oportunidades de construção de uma elite nacionalista foram poucas, mas existiram. Também demonstramos qual poder corrompe a elite dirigente e que promove golpes quando não está sendo atendido.
A pedagogia colonial dos interesses estrangeiros foi mais forte do que a cultura que produzimos aqui. Um exemplo, se não for falsa gravação a fala do general Heleno, homem do sistema de informação oficial, que corre nas redes sociais, está na ameaça de golpe implícita se não for reeleito o candidato das finanças marginais.
Onde deveríamos ter um Estado unitário, que era a nossa prática, copiamos uma federação que só tumultuou a administração brasileira e fez perdurar o sistema de capitanias hereditárias por toda nossa existência. Ou o que é o “Centrão” parlamentar senão o acordão dos herdeiros das capitanias?
Temos uma sucessão de golpes, aplicados desde 1822 até hoje, sempre no sentido de impedir a construção de um Estado Nacional Soberano. Mas estes golpes nunca aparecem conforme são efetivamente. Estatisticamente a corrupção e o comunismo são os pretextos mais usuais, o que mostra até a ignorância ou a pouca criatividade das elites dirigentes ou de seus donos no estrangeiro.
Como Bolsonaro chegou ao poder? Por um golpe que evitou a continuidade da transformação social que vinha ocorrendo no Brasil e do uso da mina de ouro descoberta em 2007, o pré-sal, com reservas de petróleo para quase um século, que permitiria atingirmos relação desenvolvida de consumo de energia per capita.
Em outras palavras, de podermos ser, finalmente, um país industrializado com tecnologia desenvolvida aqui mesmo. Como já deram mostra a Petrobrás, na área do petróleo e seus derivados, a Eletrobrás, na geração e transmissão de energia elétrica, a Cobra (Computadores e Sistemas Brasileiros) na fabricação, hardware e software de computadores inteiramente nacionais, a Nuclebrás, no desenvolvimento da tecnologia nuclear, a Embratel, no desenvolvimento das comunicações por satélite, a Embraer, na fabricação de aviões de uso militar e civil, e tantas outras empresas que a ideologia importada do neoliberalismo apagou da nossa história, e impediu o nosso futuro.
Onde está a corrupção senão nos bancos, nos subornos e nas chantagens com que agentes do exterior influenciam dirigentes brasileiros? Corrupção vem de quem têm dinheiro para corromper, é uma via de mão dupla. Só nos discursos de um juiz, formado e orientado pelos Estados Unidos da América (EUA), onde constantemente vai buscar orientação, pelas poucas luzes de seu discernimento, a corrupção é avassaladora.
Onde está o perigo comunista, onde um partido legalmente constituído, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), com 12.767 filiados, não consegue eleger um único representante para o congresso, um único governador ou deputado estadual, ou prefeito de capital? Apenas nos discursos do senador Hamilton Mourão, pois nem é tão burro que acredite nesta sua fala.
Mas foi com estas acusações que tiraram Getúlio Vargas, por duas vezes, do governo, exilaram João Goulart do Brasil, e aplicaram o golpe da dívida para evitar que Ernesto Geisel escolhesse seu sucessor, dando continuidade aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND).
E nos vemos, hoje, com um amontoado de mentiras, que robôs pagos e orientados pelo exterior inundam as redes sociais, levam o povo, doutrinado pela pedagogia colonial, a manter a Questão Nacional fora do debate político.
O dia seguinte ao covid 22 pode ser o fim de um Estado Nacional, pelo domínio absoluto dos capitais marginais apátridas.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.
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