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Pedro Augusto Pinho
Administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).

Petróleo é energia; finanças, ONG e comunicação, fantasias

As crises do petróleo e a manipulação dos preços

Publicado em 07/06/2023
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As finanças, especialmente as britânicas e holandesas, dominaram o mundo por séculos, desde a criação das Companhias Inglesa (1600) e Holandesa (1602) das Índias Orientais e do Banco de Amsterdã (1609). Pode-se excluir, no máximo, o período da Revolução Francesa (1789-1799) e os 16 anos de Napoleão (1799-1815), mudando a face europeia.

Porém, as duas Grandes Guerras do século 20 (1914-1918 e 1939-1945) alteraram este poder, que se transferiu para o dos capitais industriais. Foi significativa esta mudança, não só econômica, mas social, pois para o capital industrial era necessário alguma distribuição de renda, objetivando constituir a classe dos consumidores. Nas finanças, o rentismo dos bens fundiários e dos empréstimos ao comércio e às guerras não exigia massa de consumidores.

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A reconquista do poder pelas finanças começa na mudança dos comportamentos, buscando a liberdade e o prazer: o “proibido proibir” do maio de 1968, na França, e do Woodstock, em agosto de 1969, no Estado de Nova York (EUA), entre milhares de eventos similares por todo o mundo.
Abre-se então a aliança com os movimentos ecológicos, preservacionistas, que já no século 19, sem qualquer divulgação, condenavam a poluição do carvão mineral nas Ilhas Britânicas e as doenças que o grupo de médicos envolvidos diagnosticava.

Desta aliança surgem as “crises” do petróleo, 1973 e 1978, atingindo fortemente os países mais industrializados e os consumidores de produtos derivados do petróleo.

Há evento paralelo a estas “crises”, que os ecólogos-financistas ocultam. O Reino Unido e países escandinavos, principalmente a Noruega, descobriram petróleo no Mar do Norte. Deveria ser área de preservação pela fragilidade do ecossistema, a proximidade do Ártico e pela dependência da pesca por grande parte da população local. Porém, resultou no aumento do preço do barril de petróleo, imputando a responsabilidade aos exportadores árabes, à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Desde o Acordo de Achnacarry (1928), em castelo na Escócia, as grandes petroleiras, que viriam a ser denominadas “Sete Irmãs”, dividiram o mundo entre si e fixaram o preço do barril de petróleo. Com isso, o barril de petróleo passou cerca de 40 anos com o mesmo preço real. Na primeira “crise” (1973), pouco mais ocorreu do que o reajuste ao valor da moeda, o dólar estadunidense (USD); apenas na “crise” de 1978 houve efetivo aumento do barril de petróleo. Mas a primeira correção já fora suficiente para suportar a exploração e produção no Mar do Norte.

Pessoas da realeza holandesa andando de bicicleta nas ruas de Amsterdã e Haia na década de 1970 têm mais de ridículo do que crítica ao uso do petróleo.

Desde então, se desenvolveu, com muitas contradições, farsas e fraudes, a economia da energia pretensamente limpa e potencialmente renovável e proliferaram as organizações não governamentais (ONGs), como a WWF em 1961 e a Greenpeace em 1971.

Na década de 1980, tomando o poder em dois grandes centros financeiros, Londres e Nova York, com as eleições de Margaret Thatcher (1ª ministra de 4 de maio de 1979 a 28 de novembro de 1990) e Ronald Reagan (presidente de 20 de janeiro de 1981 a 20 de janeiro de 1989), as finanças obtiveram o trânsito livre pelo mundo, sob a denominada “desregulação financeira”. Verdadeira viagem sem passaporte; entram e saem dos países por meios eletrônicos, sem qualquer controle das autoridades nacionais.

É nesse momento que os capitais ilícitos se aproximam dos capitais rentistas mais tradicionais e mesmo de capitais industriais, sedentos de lucros maiores e menos trabalhosos.

A dezena de paraísos fiscais existente em 1980 passa, em 2020, a 84, desde um bairro de 3 km², como a City londrina, ao pequeno arquipélago de 10 km², Toquelau, no Oceano Pacífico, subordinado à Nova Zelândia, ao Estado de Delaware, nos EUA, de onde saiu o presidente Joe Biden, e aos Emirados Árabes Unidos, Luxemburgo, Panamá etc.

Neste século 21, os capitais marginais, oriundos do tráfico de drogas, contrabandos, crimes diversos, corrupções e chantagens, disputam o poder com os mais aristocráticos capitais europeus e de ex-industriais que optaram pelo ganho especulativo das finanças e dos rentistas de todas as origens e endereços.

É sabida a relação das imprensas com os poderes, não necessariamente com os governos, mas quem está efetivamente auferindo vantagens de toda ordem naquele local.

José Augusto Ribeiro, no livro A História da Petrobrás, editado pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), conta um caso que repetia outros anteriores e se voltaria a acontecer no futuro.

“No auge da crise de agosto de 1954, um dos subchefes do Gabinete Militar da Presidência, o general Mozart Dornelles, foi procurar Chateaubriand, que conhecia desde a Revolução de 30, ele combatente e Chateaubriand jornalista.

Chocado com a virulência dos ataques a Getúlio nas televisões de Chateaubriand, o General perguntou por que uma campanha tão rancorosa e mentirosa, na qual Carlos Lacerda não fazia a menor cerimônia com os fatos e podia inventar o que quisesse, porque as TVs de Chateaubriand não abriam espaço para o direito de resposta.

Ao menos, propõe o general Mozart, que Chateaubriand agisse para moderar o tom dos ataques, não necessariamente seu conteúdo. Chateaubriand interrompe para dizer:

— Mozart, eu sou o maior admirador do presidente, eu adoro o presidente.

E oferece.

— Na hora que o presidente quiser, eu tiro as televisões do Lacerda e entrego a ele, para a defesa do governo…

Mas revela seu preço:

— É só ele desistir da Petrobrás…

De volta ao Palácio do Catete, sede do governo e acabrunhado com a chantagem de Chateaubriand, o general Mozart decidiu aconselhar-se com o ministro da Justiça, Tancredo Neves, seu cunhado. Poderia ou deveria contar a Getúlio, a quem não revelara que iria falar com Chateaubriand, a proposta que ouvira deste?

Tancredo sugeriu que o general contasse, que o presidente precisava saber do preço de Chateaubriand. Mas — acrescentou — de uma coisa ambos podiam ter certeza:

— O presidente morre, mas não desiste da Petrobrás.”

A situação atual é ainda mais grave, como se observou na campanha pela destruição da Petrobrás e da engenharia brasileira, no episódio que ficou conhecido como “Operação Lava Jato”, envolvendo o Governo dos EUA, o Poder Judiciário brasileiro, magistratura e ministério público, o Poder Executivo, as polícias estadual e federal, e com participação de parlamentares das duas casas do Congresso.

A imprensa televisiva, a Rede Globo, no Jornal Nacional, programa de grande audiência, colocava duto de onde não saia petróleo, mas notas de dinheiro, o “propinoduto”, como símbolo das relações ilícitas das empresas e empresários brasileiros com a administração da Petrobrás. Hoje já se sabe que tudo foi enorme construção midiática, alguns participantes da farsa já foram até condenados pela justiça, porém o mal está feito, e a dúvida ainda ocorre para muitos brasileiros.

Os celulares, que acompanham pessoas de todas as idades e níveis de renda e conhecimento, são verdadeiros incitadores de emoções e mestres nas desinformações. O Congresso, no entanto, está receoso de conter e combater as “fake news”, pois teme a virulência das “redes sociais”, singelo nome para verdadeira arma de destruição de vidas e conceitos pessoais.

E quem, senão os capitais apátridas estão de algum modo por trás destas redes? Ora com recursos de publicidade, ora com imposição de temas, e sempre com corrupção e chantagem, de que são profissionais.
O neoliberalismo e o fim de uma era civilizacional

Quando o neoliberalismo se instala na década de 1990, já tinha seu decálogo difundido, o “Consenso de Washington” (1989). Faltava, mas logo é conseguido, o fim da URSS e o desmembramento deste imenso continente, que compreendia a população de 289 milhões de pessoas em um território de 22 milhões de quilômetros quadrados, da Europa ao extremo oriental da Sibéria.

Trata-se logo de “criar” o Fim da História, o mundo unipolar onde as finanças seriam como a religião católica na Idade Média europeia. Mas o neoliberalismo também trouxe sua religião, o neopentecostalismo, de reuniões teatrais, onde não faltam as “curas milagrosas”, que surgiu entre as décadas de 1970 e 1980, exatamente na construção do sistema financeiro internacional. E contava com a presença de líderes carismáticos, o uso dos meios de comunicação de massa, a participação na política partidária e a pregação da “cura divina”.

Não só as curas eram fantasias, a gestão neoliberal também se afirmava com falsas evidências.

Em Manifesto de 24 de setembro de 2010, com 630 signatários, a Associação Francesa de Economia Política (Afep) enunciou as dez falsas evidências neoliberais, com foco na Europa. Selecionamos as seis mais abrangentes:

Os mercados financeiros são eficientes. Nove “crises”, desde 1990 até 2008, trataram de desmentir, ao exigir imenso aporte de recursos públicos, da ordem de trilhões de dólares estadunidenses (USD).
Os mercados financeiros favorecem o crescimento econômico. Porém, os retornos das aplicações entre 15% e 25% passam a ser norma, o que reduz a capacidade de investimentos e os salários, logo o consumo. Esta situação reprime o desenvolvimento econômico.
Os mercados são bons juízes do grau de solvência dos Estados. Apenas a dívida grega e seus desdobramentos mostram que estas avaliações estavam erradas; e, se os investidores exigem prêmios elevados, é porque a insolvência está próxima.

A subida espetacular das dívidas públicas é o resultado do excesso de despesas. No entanto, a dívida pública europeia e a mundial são resultado dos planos de salvamento do setor financeiro. Recordar a “bolsa banqueiro” de Fernando Henrique Cardoso e da dívida brasileira que cresce com empréstimos para especulação dos próprios agentes financeiros, dos bancos.

É preciso reduzir as despesas para diminuir a dívida pública. Como se as taxas de juros elevadas não tivessem consequência na economia dos próprios Estados, a globalização, mesmo que trabalhasse no sentido da receita dos Estados, seria anulada pelos juros nacionais.

A dívida pública transfere o custo dos nossos excessos para os nossos netos. Os financistas cobram sistematicamente a redução dos impostos, principalmente oriundos das receitas financeiras, como os dividendos no Brasil, e a redução da carga fiscal nos EUA e na Europa. Depois imputam aos funcionários públicos, aos portadores de doenças e aos aposentados a razão das dívidas.

Hoje, 2023, estamos na iminência de uma grande crise pela falta de ativos que garantam a enorme quantidade de papéis sem lastro, dando suporte aos financiamentos e aos fundos de investimentos por todo o mundo. Estima-se a falta de muitas centenas de trilhões de USD para solvência da dívida mundial.

As finanças apátridas e neoliberais estão fazendo a civilização ocidental recuar tanto nas questões econômicas quanto nos benefícios da tecnologia para o bem-estar e conforto de todos os humanos.
Brasil sem soberania precisa sobreviver

Há países soberanos e países dependentes, mesmo considerando a existência da Organização das Nações Unidas (ONU). Infelizmente, o Brasil não é soberano, e isso não se deve à inexistência dos bens indispensáveis à existência e ao desenvolvimento humano. Deve-se à falta de poder autônomo capaz de adotar decisões que beneficiem o país, como de algum modo tivemos nos 50 anos da Era Vargas.

A “redemocratização” dos anos 1980 se deu sob a orientação das finanças apátridas, que, naquele momento, já dominavam o cenário mundial. Exemplo irrefutável foi a Rede Globo promovendo, sem qualquer conteúdo que não fosse o emocional, um jovem despreparado e que a justiça hoje considera corrupto para governar o Brasil.

Veja-se, no extremo oposto, a despedaçada URSS e a RPCh, com filosofias diferentes — capitalista e socialista — reconstruindo seus países com seus próprios meios e hoje se apresentando como respostas de desenvolvimento integral.

A Índia, na descrição da equipe da APA Productions de Cingapura para incentivar o turismo (Destino: Índia, Cedibra Turismo, RJ, 1987), enfrentou as imensas pressões externas com políticas nacionalistas, evitando “a armadilha da dívida, principalmente porque, ao contrário da maior parte dos países em desenvolvimento, tem se apoiado quase exclusivamente em sua poupança interna para financiar a industrialização”. E, graças ao protecionismo dos governos e ao foco no bem-estar dos cidadãos, “conseguiu superar os preços do petróleo e a crise da dívida provocada pela elevação das taxas de juros nos EUA”.

O Brasil, de riqueza natural sem par no mundo, submete-se ao pior capitalismo, o dos rentistas, e, ainda mais, com forte presença de capitais marginais oriundos dos crimes.

Neste momento em que a maioria da população opta por mudança, o governo embarca na canoa furada das ONGs e das finanças apátridas, disputando a liderança da indefinível “transição energética”.

O que significa isso para um país de baixíssima energia per capita? Dispensar os mais eficientes e baratos produtores de energia? O que é mais importante: uma farsa ecológica ou a realidade geológica?

Em 23/4/2023, no Viomundo, tivemos publicado o artigo “Energia: aspectos físicos, culturais e políticos”. Nele demonstramos que as agressões dos combustíveis fósseis à humanidade nada representam diante da realidade geológica.

Tivemos dezenas de contestações dos leitores. Não nos surpreendemos. A pedagogia colonial não informa, deforma; não educa, mistifica. Afinal, com as finanças por trás, é fácil obter de doutores, professores, até de Prêmios Nobel, como já ocorreu mais de uma vez (lembrar da necessidade de vitamina C), declarações anticientíficas, atestados falsificados e estatísticas fraudadas.

Mas a realidade se impõe. A recente erupção do vulcão em Tonga, no Oceano Pacífico, criou uma bolha, lançou tanto vapor d’água na estratosfera (entre 15 e 50 km da superfície terrestre) que seus efeitos deverão atuar sobre as temperaturas, no entorno da Austrália, por uns cinco anos. E não foi pela mão humana, nem se pode tratar de emissões de carbono, como alertávamos no artigo no Viomundo.

Entregar o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima à senhora Marina Silva é colocar os interesses do Atlântico Norte, por suas ONGs, no governo do Brasil. E como fica a autonomia decisória em favor dos brasileiros, como fizeram a Índia, a Federação Russa e diversos países integrantes da Iniciativa do Cinturão e Rota?

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