Reforma agrária e união Brasil-Argentina: chave da industrialização latino-americana
Washington vê a América do Sul escapando das determinações fixadas pela Doutrina Monroe
O Estado nacional, no comando de Lula, está com a faca e o queijo nas mãos para alavancar reforma agrária e tocar a industrialização no Brasil, no momento em que se aproxima efetivamente da Argentina, com reflexos diretos em toda a América Latina; as terras devolutas disponíveis, na verdade, propriedade do povo, são matéria prima para dinamizar o capitalismo no campo com perfil social, para favorecer desenvolvimento com melhor distribuição da renda nacional a partir da democratização da propriedade.
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Distribuir terra e em seguida conceder financiamento ao micro, pequeno e médio proprietário para nela produzir é o pontapé da construção do sistema capitalista produtivo, como foi feito nos países europeus, a começar pela Inglaterra, no século 18, e, nos Estados Unidos, no século 19; terras devolutas para reforma da propriedade mediante crédito público representa fortalecimento do mercado interno, base essencial para transformar, na sequência, a produção primária em produção manufaturada.
Tal movimento é o da agregação de valor do produto nacional por intermédio da valorização do trabalho, valor que se valoriza; essa caminhada pela democratização da terra e do capital é, também, o que aconteceu na China, a partir de 1949, com Mao Tse Tungo; tal revolução, Lula promete fazer via crédito público; bancos estatais estão aí para isso mesmo; além disso, interessará a quem compra alimentos do Brasil, como a China, em primeiro lugar, financiar a produção tocada por pequenos agricultores, os clientes alvo dos chineses no financiamento de pequenas e médias máquinas agrícolas que almeja atingir, como já está operando em diversos países, na África.
Essa seria ou não tarefa dos Brics, que juntam Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul, no cenário da nova geopolítica do sul global?
O assunto vai ser discutido, em agosto, na África, quando estará aberto à participação nos Brics mais de 19 paísees interessados; trata-se de novo momento da economia mundial, porque Brics, essencialmente, soa, aos ouvidos da nova sociedade global, cooperação e novo tipo de comercio baseado em troca de moedas locais, moeda de referencia entre parceiros, como a que Brasil e Argentina discutem nesse momento, criando alternativa ao domínio imperialista hegemônico do dólar, vigente, no mundo, desde fim da segunda guerra mundial, em Bretton Woods, em 1944.
RETOMADA DA INTEGRAÇÃO CONTINENTAL
A união comercial Brasil-Argentina, firmada entre os presidentes Lula e Alberto Fernandez, é retomada da integração econômica e política sul-americana, expressa na ressurreição da Unasul, que ganhou substância no início do século 20, especialmente, pela ação dos governos nacionalistas da Argentina, Brasil, Venezuela, com Kirchner, Lula e Chavez.
Tal progressividade geopolítica ganhou projeção política com objetivo claro e decisivo em favor da integração; essa escalada visa, agora, primeiramente, a união efetiva Brasil-Argentina, prejudicada pela emergência neoliberal, apoiada pelos Estados Unidos, que havia levado ao poder Macri, na Argentina, e Bolsonaro, no Brasil, enquanto, ambos, sob comando de Washington, tentou, infrutiferamente, inviabilizar a Venezuela, sob orientação chavista, comandada por Maduro.
A retoma antineoliberal, no Brasil, com Lula, em 2022, ganhou corpo com Alberto Fernandez, na Argentina, onde, no momento, o poder está em jogo entre o peronismo e neoliberalismo, na eleição presidencial, no final do ano; a aproximação decisiva Brasil-Argentina faz parte dessa luta política ideológica, em meio ao tormento econômico argentino, sob hiperinflação superior a 100%, em decorrência da imposição fiscal draconiana do FMI, que não deixa Fernandez governar diante da herança macrista.
A aproximação Brasil-Argentina não agrada Washingnton porque, essencialmente, realiza-se ao largo do status quo financeiro neoliberal imposto pelo dólar. A proposta de moeda alternativa capaz de referenciar relações comerciais Brasil-Argentina tende a empolgar a América do Sul, com apoio decisivo, primeiramente, da Venezuela, detentora de maior reserva de petróleo da América do Sul, uma das maiores do mundo.
Do ponto de vista geopolítico, Washington vê a América do Sul escapando das determinações fixadas pela Doutrina Monroe, para se aproximar da nova geopolítica global ditada pela hegemonia comercial chinesa em ascensão, empenhada em dinamizar a economia sul-americana por meio de empréstimos aos Brics, descolado das imposições estabelecidas pelo Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
A alavancagem da reforma agrária, portanto, a partir da distribuição, pelo Estado, de terras devolutas, alvo dos novos empréstimos cooperativos acenados pelo Banco Brics, em parceria com bancos de desenvolvimento, como o BNDES, visando industrialização, tende a materializar a nova geopolítica sul-americana que Lula e Fernandez começam implementar, para valer, entre os dois maiores países da América Latina, com reflexos decisivo nas relações econômicas latino-americanas.
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