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Pedro Augusto Pinho
Administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).

Sem Estado: mantendo o rumo do fim do mundo

Pedropinho100Porém se a pedagogia colonial for mais forte, a corrupção inerente ao poder financeiro permanecer comprando consciência

Publicado em 07/10/2022
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e chantageando dirigentes, como estará o mundo de amanhã?

Daniel Estulin é o jovem jornalista e escritor lituano, que por primeiro colocou em livro os superdonos do mundo: “A Verdadeira História do Clube Bilderberg”.

Entre suas obras está “Metapolítica Transformação global e guerras de potências”, de 2020, da qual retiramos trechos da tradução de Matheus Bonetto Pacini para Vide Editorial, Campinas, 2022.

Estulin considera que as “estruturas conspiratórias” começam no século XVII, “fruto do longo século XVI”, das conquistas marítimas, quando entre 1613 e 1617 foram criados o Standard Chartered Bank e o fundo da empresa (goodwill) da família Baruch, de onde deriva o Banco Central da Inglaterra (1694) e a “invenção da dívida pública”.

Embora não consideremos este artigo o local ideal para discursão sobre o ovo e a galinha, há aspectos da pedagogia colonial que nos impõem alguns reparos.

Na Idade Média ocorreram muitos mais fenômenos do que os comumente descritos para distinguir a Alta e Baixa Idade Média, como escrevemos nas “Reflexões para Teoria do Estado Nacional”, com Felipe Maruf Quintas, semanalmente, no jornal impresso Monitor Mercantil, desde 03/03/2022.

A festejada Magna Carta, a primeira de 15 de junho de 1215, firmada pelo Rei João, de codinome Sem Terra, visava exatamente impedir que o Rei surgisse nas sucessões dos nobres como herdeiro de suas propriedades. Nada teve de início da democracia constitucional. Ela foi ratificada e ampliada pelo sucessor de João em 1216, 1217 e 1225. Transformou-se assim numa garantia para as dívidas reais e transferiu o poder fundiário para a nobreza que foi ampliando para o poder financeiro, consolidado no século XVII com o Banco da Inglaterra. A este respeito sugerimos consulta ao tópico “O Banco da Inglaterra” em “A História Secreta do Ocidente” (Nicholas Hagger, “The Secret History of the West”, O Books, Londres, 2005).

Desde o século XVIII, a Inglaterra vem moldando o Estado aos interesses da aristocracia dominante que inclui os monarcas e os “barões”, os nobres proprietários. Nicholas Hagger e Daniel Estulin veem a participação da maçonaria, que mesmo no continente seria gerida por Londres. Há algumas controvérsias a este respeito, pois o século XVIII é também de revoluções nacionais, como a industrial, na própria Inglaterra, dos Estados Unidos da América (EUA), pela Independência, e a Francesa, mais amplamente analisada pela ciência política (Abade Sieyés e Edmund Burke), e pela história (Thomas Carlyle e Jules Michelet).

O processo da expansão colonial e o desenvolvimento da industrialização inglesa se deram sob o controle das finanças. Não houve alteração do poder. Ele só será derrotado de fora da Grã-Bretanha, pela ascensão industrial, principalmente estadunidense, com as duas grandes guerras. No entanto, as finanças britânicas não aceitaram a derrota, com seus aéticos métodos logo iniciam o contra-ataque.

Em 30 de maio de 1919, reúnem-se no Hotel Majestic, em Paris, economistas, entre eles Maynard Keynes, o historiador da Harvard, Archibald C. Coolidge, o jornalista de The Inquiry responsável por área internacional, assessores da família de J. P. Morgan, como James Brown Scott, advogado, e Thomas W. Lamont, sócio, que financiaria o Royal Institute of International Affairs, de Londres. Foi também criado o Council on Foreign Relations, nos USA. Coronel Nandel House, amigo íntimo de Woodrow Wilson, foi o coordenador do encontro denominado Round Table Group, em alusão à Távola Redonda do Rei Arthur, embora houvesse nítida hierarquia, nesta versão século XX.

A criação, nem sempre mantida oculta, de organizações para impulsionar e defender o modelo colonial financeiro inglês já ocorrera com Cecil Rhodes, Sociedade Milner, “Cercle” (Círculo) e outras.

O grupo do Majestic era a continuidade do modelo que gera o Clube Bilderberg, em 1954. Ao qual se seguem o Clube de Roma (1968), o Foro Econômico Mundial (1971), a Comissão Trilateral (1973), Diálogo Interamericano (1982), a Organização Mundial do Comércio (1995) e outros mais com o propósito de recolocar as finanças no poder mundial, um retorno ao século XIX, com os recursos da informática e das estruturas sistêmicas de organização.

O objetivo era destronar o industrialismo e se apossar de tudo que ele construíra em cerca de 150 anos. Para este feito a primeira associação foi com os ingênuos ingleses que lutavam contra poluição do carvão, principal energia do início da industrialização. Também começam a comprar e corromper as comunicações ainda incipientes no sistema audiovisual. Com o surgimento da informática, souberam melhor do que os industriais transformá-la em instrumento da conquista e manutenção do poder.

É oportuna a transcrição de ensaio de Lyndon LaRouche, originalmente publicado na Executive Intelligence Review (EIR, vol. 24, nº 51, 19/12/1997), “O Apocalipse segundo Wells”, na tradução de Gildo Magalhães e Yara Nogueira Müller, para o Movimento de Solidariedade Ibero-americana, RJ, 1999, com título “O Governo Mundial”:

“No mês de outubro de 1997, um “Titanic insubmersível” foi perfurado na colisão com uma espécie de iceberg que estava à sua espera. Eis aí o que resta da “sociedade da informação”. O sistema financeiro globalizado e impregnável pós-1989 dirige-se agora para o abismo aquático. Infelizmente, sendo a sanidade o que é, ou não é, nestes dias, mesmo depois dos acontecimentos globais de outubro e novembro, a maioria dos passageiros, inclusive o ex-chefe do Citibank, Walter Wriston, ainda se agarra ao navio que afunda, se segura na fé ilusória de uma “utopia insubmergível”, uma economia da “sociedade informacional eterna, neomalthusiana”.

Vamos lançar nossos olhos, se possível se as vendas da pedagogia colonial, para o mundo do século XXI, especialmente para o que mais nos interessa: o Brasil.

Quase todas as referências ou comentários sobre o que ocorre fora de nossas fronteiras vêm de doutrinações ideológicas, de interesses defendidos pela imprensa exterior, de nossa incapacidade de colher as informações na fonte. Nesta série, com toda certeza, nosso estimado leitor teve descrição inteiramente nova de Singapura. Porque lá passamos dias pesquisando diversos aspectos da cidade-estado, em período de campanha eleitoral. Quem já se debruçou sobre as Constituições da República Popular da China e suas emendas para entender as mudanças no sistema de poder e na estrutura organizacional?

As desregulações da década de 1980 abriram para o sistema financeiro os armários e porões dos recursos oriundos de ações criminosas. Estes não correram para os bancos, que se fundiram, e paraísos fiscais, que decuplicaram na década seguinte. Eles passaram nove anos analisando as “crises” forjadas pelas finanças e colocaram o que, para eles, era valor de teste: quatro trilhões de dólares estadunidenses (USD). O resultado foi amplamente satisfatório. Criaram os gestores de ativos para comprar, vender, subornar, corromper, chantagear e gerar ainda maiores lucros com suas ações criminosas. Não denominamos criminosas por aspectos éticos ou morais, mas pelas legislações nacionais, a brasileira evidentemente, e os acordos internacionais que assim as classificam: crime, quais sejam: tráfico de pessoas e órgãos humanos, de drogas e armas, evasão fiscal etc.

Os capitais marginais no poder do mundo ocidental, principalmente, corromperam a moral social de tal forma que um ministro brasileiro reconhece ter recursos em paraíso fiscal e não sofre qualquer tipo de punição. Idem para presidente de Banco Central.

Com o domínio da comunicação de massa, das instituições nacionais, dos governantes, vemos a violência crescer no Brasil, vê o poder das forças armadas e da polícia ser transferido para as milícias, para os primeiros comandos da capital e outros, que, se não o fazem, insinuam nomear e promover os membros do poder judiciário, que se empodera, se investe de autoridade além da missão constitucional. Nada é por acaso, nem pela falta de qualificação ou “qualidades” pessoais; é um novo poder que assume.

A luta do povo não é por partido político ou pelas qualificações de eventuais candidaturas, é pelo retorno da Questão Nacional como o mais importante debate brasileiro.

Esta questão foi sepultada com o domínio das finanças, e faz todo sentido para quem deseja a globalização e a unipolaridade. O Brasil, neste momento, tem nos países que integram os BRICS, a Organização para Cooperação de Xangai, os que participam da Nova Rota da Seda, os possíveis aliados contra a marginalidade que veio com as finanças e se transformou em poder com a “crise” 2008-2010.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, presidente da AEPET.

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