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Vaclav Smil

Voando sem querosene

A aviação responde por apenas cerca de 2% do volume global de tais emissões e cerca de 12% do total liberado pelo setor do transporte, mas a c

Publicado em 28/06/2022
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A aviação responde por apenas cerca de 2% do volume global de tais emissões e cerca de 12% do total liberado pelo setor do transporte, mas a conversão para acionamento elétrico é muito mais difícil para aviões do que para carros e trens.

O combustível de aviação de hoje - a formulação mais comum é chamada Jet A-1 - tem uma série de vantagens. Tem 42,8 megajoules em cada quilo, pode ficar líquido até -47 °C, e supera a gasolina em custo, perdas por evaporação em alta altitude e risco de incêndio durante o manuseio. Ainda não existem rivais reais. Baterias com capacidade suficientes para voos intercontinentais com centenas de pessoas ainda são ficção científica, e não veremos aviões de grande porte movidos a hidrogênio líquido em breve.

O que precisamos é de um combustível equivalente ao querosene derivado de matéria vegetal ou resíduos orgânicos. Esse biocombustível não liberaria mais CO2 durante a combustão do que as plantas sequestram durante o crescimento. A prova do princípio foi demonstrada: desde 2007, voos de teste usando misturas de Jet A-1 e biojet se provaram adequadas como alternativas para aeronaves modernas.

Em março de 2016, a United começou usando biocombustível no Aeroporto Internacional de Los Angeles, recebendo entregas da Refinaria Paramount da AltAir, onde o combustível é feito por hidroprocessamento de ésteres e ácidos graxos derivados de sebo bovino e gordura suína e de resíduos agrícolas. A partir de 2018, A Fulcrum BioEnergy de Nevada produzirá biojet a partir de resíduos municipais e o fornecerá para United e Cathay Pacific.

Mas o contrato de biojet da United fornecerá apenas 2% do consumo anual de combustível da companhia aérea, um excelente exemplo da escala assustadora da substituição necessária. É verdade que os aviões de hoje estão cada vez mais econômicos: em 2015 eles queimaram cerca de 50% menos combustível por passageiro-quilômetro do que em 1960. Mas essas economias foram anuladas pela expansão contínua da aviação, que aumentou o consumo anual de combustível de aviação para mais de 50 milhões de toneladas nos EUA e mais de 250 milhões toneladas métricas em todo o mundo.

Para atender a essa demanda em grande parte com a biojet, teríamos que ir além do resíduo orgânico e das fontes sazonais ou permanentes das oleaginosas cujo cultivo requerem grandes áreas e criam problemas ambientais. Em clima temperado as oleaginosas têm rendimentos relativamente baixos: com um rendimento médio de 0,4 tonelada métrica de biojet por hectare de soja, os Estados Unidos precisariam alocar 125 milhões de hectares - uma área maior que o Texas, Califórnia e Pensilvânia combinadas— sob o cultivo da soja para fornecer seu próprio combustível de aviação. Isso é quase quatro vezes os 34 milhões de hectares que o país dedicou à soja em 2016. Mesmo a opção de maior rendimento, o óleo de palma, cuja média 4 toneladas métricas de biojet por hectare, ainda demanda mais de 60 milhões de hectares de áreas de floresta tropical para abastecer o mundo com combustível de aviação. Isso exigiria quadruplicar a área dedicada ao cultivo de óleo de palma, levando à liberação de carbono acumulado no crescimento natural.

Mas por que consumir grandes extensões de terra quando você pode obter biocombustíveis de algas ricas em óleo? Cultivo intensivo e em larga escala de algas exigiria relativamente pouco espaço e ofereceria muito mais produtividade. No entanto, a experiência da Exxon Mobil mostra o quão exigente será para se alcançar até dezenas de milhões toneladas de biojet todos os anos. A Exxon vem trabalhando com a Synthetic Genomics de Craig Venter, e começou a perseguir esta opção em 2009, mas em 2013, depois de gastar mais de US$ 100 milhões, concluiu que a os desafios eram muito grandes e decidiram reorientar a investigação básica a longo prazo.

Como sempre, a tarefa de substituição de energia seria facilitada se desperdiçássemos menos, digamos, voando menos. Mas as previsões são de crescimento substancial do tráfego aéreo, principalmente na Ásia. Acostume-se com o cheiro inconfundível de querosene de aviação: estará aqui por muito tempo.


Original: https://vaclavsmil.com/wp-content/uploads/2010/02/19.FLYING-1.pdf

 

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