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Confira entrevista de Christian Queipo à revista Brasil Energia

Conselheiro eleito deu ênfase à visão da Petrobrás como empresa integrada

Publicado em 15/03/2018
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Entrevistado pela revista Brasil Energia, Christian Queipo reiterou que sua atuação será norteada pelos quatro eixos destacados em sua campanha, com destaque para a reavaliação do plano de desinvestimento da Companhia.

Nota da Redação: há um engano na matéria, relacionado à duração do mandato de Christian: são dois anos, e não um ano, como informado no texto. 

Leia a seguir a íntegra da entrevista concedida à jornalista Cláudia Siqueira.

ENTREVISTA: Christian Queipo, Do Conselho Da Petrobras

Eleito representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, o argentino naturalizado brasileiro Christian Alejandro Queipo apoiará seu mandato de um ano em quatro eixos centrais, sendo um voltado à reavaliação do plano de desinvestimento da petroleira. Formado em Engenharia Química na Universidade de Buenos Aires e com Doutorado em Ciência pela UFRJ, Queipo ingressou na Petrobras em 2007, trabalhando hoje na Gerência de Projetos de Refino, Gás e Energia, comandando em paralelo a Diretoria Administrativa da Aepet. Eleito com 53,5% dos votos (5.951 votos), o novo representante substituirá Betânia Coutinho, depois de derrotar Danilo Silva, representante da FUP, que recebeu 5.245 votos. A Brasil Energia Petróleo conversou com o novo conselheiro.

Quais são as suas principais propostas para o seu mandato no Conselho de Administração da Petrobras?
Minha candidatura estava baseada em quatro eixos que têm a ver com a condução dos negócios da companhia. Se por um lado você tem a definição do plano de negócios com a atividade voltada para crescer na área de E&P, com foco no pré-sal, a companhia perdeu a visão de empresa integrada, do poço ao posto. Estamos vendo movimentos de sair integralmente de certas áreas, como biocombustíveis, fertilizantes e até petroquímica. A gente acha que esse tipo de proposta é fundamentalista, é preciso avaliar negócio a negócio para ver qual é a melhor opção. O pré-sal é importante, é estratégico, não só para a Petrobras como para o Brasil, mas não se pode desconhecer que há outras áreas que a Petrobras precisa ocupar também para poder integrar sua cadeia de negócios.

No ano passado foi aprovado um mecanismo do Renovabio onde as companhias vão ter de comprar dos produtores de biocombustíveis créditos de descarbonização para poder atender a uma série de metas que o Brasil se comprometeu na reunião de Paris. Se a empresa não tem um negócio de biocombustíveis bem estruturado, que permita adquirir os créditos de descarbonização, vai ficar ao sabor do mercado e pagando caro por isso. A Shell está atenta a isso e formou a Raízen. A proposta é rever o plano de negócios naqueles itens que precisam ser corrigidos.

A sua defesa é pela volta de uma empresa integrada?
Sim, a proposta é ter uma empresa integrada do poço ao posto e sustentável no tempo. Não podemos desconhecer que estamos transitando para uma economia pós-fóssil. Diante desse quadro, a companhia tem de se tornar sustentável e é a partir das energias renováveis que isso vai acontecer.

E como o sr. vê a Petrobras nesse cenário de economia pós-fóssil?
Retomando esse caráter de empresa energia integrada, como foi a visão de alguns anos atrás, nos planos anteriores de 2009/2010. A Petrobras tinha participação em pequenas PCHs, eólicas, faltou entrar no negócio de energia solar. A Petrobras Biocombustíveis era alvo de críticas porque não participava da produção da matéria prima. Aprendemos com essa experiência e quando entramos no etanol, produzimos a matéria-prima, em parceria com usinas existentes. Vamos utilizar o petróleo como alavanca para que no futuro seja uma empresa de energia renovável.

Mas a Petrobras pode prescindir dos recursos desse investimento no momento?
A gente se pergunta qual o verdadeiro impacto no caixa futuro da companhia dessas vendas de ativos. Muitos dos ativos hoje são rentáveis. Com a desculpa de que a dívida é muito grande – e você pode discutir grande comparado com o quê -, vender ativos rentáveis e estratégicos vai afetar o fluxo de caixa no curto prazo com os gasodutos, e no médio prazo, quando precisarmos escoar os nossos produtos. Transferir para outros atores ativos de logística, como a Liquigás, são decisões que vão ter impacto no futuro muito graves para a companhia. As análises de vendas de ativos têm de contar com pareceres de consultores da própria Petrobras. A proposta é fazer uma análise profunda das premissas que estão sendo adotadas e concluir se são realmente benéficas.

Mas o endividamento é real…
A dívida da Petrobras foi assumida lá atrás. Houve quatro anos seguidos que a empresa investiu quase US$ 40 bilhões. A natureza dos investimentos de E&P demora até sete anos para render caixa. Este ano já vamos colocar o campo de Búzios para produzir, ou seja, as receitas já estão chegando. Este ano teremos um incremento de produção notável. A gente não precisa desinvestir em ativos
rentáveis para pagar uma dívida que foi feita exatamente porque tínhamos prospectos em bons negócios.

E quais são os outros dois eixos da sua plataforma?
A gestão de grandes empreendimentos. O impacto na imagem da empresa foi a ação de um cartel de empreiteiras que, colocando executivos de aluguel nos postos chaves da Petrobras, se beneficiaram dessa concentração de investimentos. Cerca de 90% dos investimentos eram gastos e concentrados em oito empresas. Isso porque virou quase um dogma na empresa a contratação por meio de contratos de amplo escopo (EPCIs). Isso é um erro porque a empresa perde esse vínculo com o mercado na realização de estimativas de custos ou na própria gestão desses empreendimentos.

E na sua avaliação qual a melhor forma de fazer isso?
A gestão dos grandes empreendimentos deve ser feita por técnicos da Petrobras. Os projetos básicos, feitos internamente e o de detalhamento, internamente ou contratado total ou parcialmente. Quando tiver uma maturidade, a Petrobras pode voltar a comprar grandes equipamentos e gerir os contratos de construção e montagem, de forma a permitir a maior participação das empresas de médio e pequeno porte, não somente as grandes empreiteiras.

O sr. mencionou a proposta de revisão do plano de negócios. O sr. acredita realmente que terá espaço dentro com CA para isso?
Não é questão de conseguir ou não. Temos de saber o que queremos ser como país. Nenhum país do mundo se desenvolveu exportando commodities. Não adianta comparar com a Noruega, que tem 5 milhões de habitantes. O conselheiro representante dos empregados no CA da Petrobras tem que atender aos anseios dos empregados, que por sua vez estão muito vinculados aos anseios da população brasileira. Temos de maximizar o aproveitamento da renda petroleira pela maioria da população brasileira. Não podemos atender interesses financeiros de curto prazo porque justamente a Petrobras é a alavanca do desenvolvimento nacional.

A Petrobras tem recurso e saúde financeira para manter essa diversificação que o sr. defende?
Se a gente fala de saúde financeira, tem que falar na meta de desalavacagem, que é relação dívida líquida e geração e caixa. Na verdade o que foi colocado não é uma meta de alavancagem e sim uma meta de desinvestimento. A Petrobras não está quebrada, nunca esteve.

Mas a companhia vive um momento financeiro peculiar, que requer preocupação…
A Petrobras fechou o último trimestre com US$ 23 bilhões em caixa. Se você pegar a Exxon, ela tem um faturamento duas vezes e meio o da Petrobras e tem em caixa US$ 4 bilhões. Qual você acha que está quebrada? Em um processo de transição, a Petrobras tem que retomar os investimentos em energias renováveis que tragam retorno à companhia.

O que deveria ser vendido na sua avaliação? O que não traz retornoeconômico?
A primeira pergunta seria se a gente precisa vender alguma coisa. O fluxo de caixa dá perfeitamente para atender a isso aí. Os investimentos já começaram a dar retorno e o caixa adicional vai pagando os compromissos. Quem fala o contrário está querendo justificar a meta de desinvestimento e não uma meta de desalavancagem.

Na sua avaliação , o que falta ao Conselho de Administração e à atual Diretoria?
O que faz falta é um plano de desenvolvimento nacional, que coloque novamente a Petrobras como alavancadora de desenvolvimento. O que está acontecendo nos estaleiros nacionais é uma coisa muito grave. Os estaleiros davam emprego antes e agora as encomendas estão sendo transferidas para a China e o exterior em geral. A visão que impera hoje é financista e de curto prazo, que vai levar a uma Petrobras cada vez mais dependente das estrangeiras.

O primeiro representante dos funcionários no CA foi indicado pela Aepet, sendo que no último ano foi eleita um funcionária sem vínculos com instituições e sindicatos. A que o sr. atribui a volta de um representante da Aepet à cadeira do colegiado?
Atribuo essa volta ao trabalho que a gente vem fazendo na Aepet de fiscalização das ações dessa diretoria. A gente tem uma posição muito crítica, desde a gestão Graça Foster, passando pelo (Aldemir) Bendine e agora muito mais na gestão do Pedro Parente. Acho que esse voto de confiança se deve ao fato de não ser uma candidatura vinculada a um sindicato ou um movimento e sim a um trabalho que a gente vem fazendo na Aepet para dar uma visão diferente daquela que os petroleiros recebem diariamente pelos canais de comunicação da empresa.

O sr. acredita que terá voz ativa dentro do CA?
Com certeza vou ter uma voz ativa, não sei se irão ter ouvidos ativos para ouvir o que eu vou falar. O que me faz sentir confiante é que não vou estar sozinho. Vou ter muita gente preparada e capacitada me dando suporte para as ações que vou tomar naquele conselho.

E qual a sua expectativa em relação ao novo CA da Petrobras?
Não estou a par de quem são os candidatos, mas não vejo que esse ano tenha mudanças de orientação política. Existem algumas coisas de interesse para que a empresa continue saudável e cresça para valorizar seu patrimônio em ações.

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