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Juros altos prejudicam país, porém mercado quer mais

Selic não interessa ao setor produtivo e sim a quem tem muito dinheiro para aplicar em juro alto

Publicado em 24/03/2023
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O Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, mantiveram a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, apesar da taxa de inflação estar em 5,6%. Com isso, o Brasil manteve a liderança do ranking mundial de juros reais pela quarta vez consecutiva, o que prejudica o país e sua população.

Entretanto, as críticas do governo ao Banco Central (BC), do presidente Luís Inácio Lula da Silva, fizeram o mercado financeiro ter um dia de nervosismo. A bolsa de valores caiu 2,29% e fechou no menor nível desde julho. O dólar chegou a iniciar o dia em baixa, mas reverteu o movimento e aproximou-se de R$ 5,30.

Deve-se levar em consideração a taxa de juros reais, porque um país pode ter juros de 20%, mas se a inflação for também de 20%, a taxa de juro real é zero. Porém, caso tenha uma taxa de juros reais alta e inflação baixa, como é o atual caso brasileiro, a diferença se converte em ganho para rentistas e perdas para o setor real da economia, o que produz e abre novos postos de trabalho.

Segundo levantamento da gestora Infinity Asset e Portal MoneYou, os dez países que lideram o ranking da taxa real de juros ao ano são: Brasil 6,94%, México 6,05%, Chile 4,92%, Filipinas 2,62%, Indonésia 2,45%, Colômbia 1,93%, Hong Kong 1,74%, África do Sul 1,60%, Israel 1,57% e Índia 1,29%.

O levantamento da taxa real de juros compilou dados dos 40 países mais relevantes do mercado de renda fixa mundial nos últimos 25 anos.

Segundo o técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Leandro Horie, a taxa real de juros, que considera a taxa nominal, a Selic, menos a inflação dos últimos 12 meses, não interessa ao setor produtivo e sim a quem tem muito dinheiro para aplicar e lucrar com o juro alto. E isso não ajuda a economia do país, só ajuda os ricos a ficarem mais ricos. "As taxas de juros reais altas interessam a quem tem dinheiro porque é muito mais fácil deixá-lo no banco rendendo estes juros reais altos do que 'arriscar', investindo na compra de máquinas ou adquirindo crédito para compras para investimento produtivo, que é o que gera emprego e renda. Investir nesse cenário se torna mais caro e o retorno é incerto", explica.

De acordo com Horie, a explicação para o Brasil liderar o ranking dos juros reais é o fato de que no período de alta da inflação o BC elevou as taxas de juros e, no atual, com inflação bem menor do que estava, não faz o movimento contrário, ou seja, baixar a Selic.

"Na prática, os efeitos da manutenção deste patamar de taxa básica de juros, frente à redução da inflação são a queda dos investimentos produtivos e da demanda interna, com o encarecimento do crédito, dos investimentos e a redução do consumo", diz o técnico do Dieese.

"O Banco Central, responsável pelas taxas de juros praticadas no país, tem atuado de forma excessivamente conservadora, distante da atual realidade da economia brasileira e prejudicando desempenho da economia não só este ano como também pode contaminar 2024, já que mesmo que haja mudanças na taxa de juros na próxima reunião, seu impacto na economia não é imediato", conclui.

Bolsa

O índice Ibovespa, da B3, encerrou quinta-feira aos 97.926 pontos, com queda de 2,29%. O indicador chegou a subir no início das negociações, mas passou a cair ainda durante a manhã e intensificou a queda durante a tarde, após o presidente Lula dizer que a taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,75% ao ano "não tem explicação" e que o Senado "terá de cuidar" de Campos Neto, presidente do Banco Central.

Esta foi a primeira vez em nove meses que o Ibovespa fechou abaixo de 100 mil pontos. O indicador está no menor nível desde 18 de julho do ano passado. A bolsa brasileira destoou do mercado externo. Nesta quinta, as bolsas norte-americanas subiram após a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, prometer medidas para garantir os depósitos em bancos dos cidadãos norte-americanos.

No mercado de câmbio, o dia também foi marcado pela tensão. O dólar comercial fechou o dia quinta vendido a R$ 5,29, com alta de R$ 0,053 (+1,01%). A cotação iniciou o dia em queda, com a moeda norte-americana vendida a R$ 5,20, mas passou a disparar ainda durante a manhã. A moeda norte-americana está no maior valor desde o último dia 15, quanto tinha fechado a R$ 5,294.

Na última quarta-feira à noite, após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, diversas autoridades se manifestaram. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou "muito preocupante" o comunicado do Copom, no qual o BC manifestou incerteza em relação ao novo arcabouço fiscal e informou que poderá elevar novamente a Selic caso a inflação continue resistente.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também criticaram a decisão do BC. Em entrevista à Agência Brasil nesta quarta, Costa classificou de "insensibilidade com o povo" a manutenção da taxa Selic no maior nível desde janeiro de 2017.

Com informações da CUT e da Agência Brasil

Fonte: Monitor Mercantil

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