Eugenio Miguel Mancini Scheleder
Eugenio Miguel Mancini Scheleder
Eugenio Miguel Mancini Scheleder é Engenheiro Mecânico e trabalhou na Petrobrás por 52 anos.

De volta para o futuro

A venda de ativos estratégicos, a partir de 2016, foi um equívoco monumental

Publicado em 22/12/2025
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O Conselho de Administração da Petrobrás aprovou, em reunião realizada no dia 27 de novembro de 2025, o Plano de Negócios 2026-2030. Foram mantidas as estratégias definidas no Plano Estratégico 2050, as quais conciliam o foco em óleo e gás com a diversificação em negócios de baixo carbono, inclusive produtos petroquímicos, fertilizantes e biocombustíveis.

O PN 2026-2030 admite, para o período, um cenário de preços mais baixos  e reforça o compromisso de crescimento com geração de valor e sustentabilidade financeira da Companhia, por meio de disciplina de capital, eficiência operacional, otimização de gastos operacionais e limites orçamentários para investimentos. No horizonte do Plano, a Petrobras prevê investimentos de US$ 109 bilhões e uma produção própria levemente crescente, atingindo 3,4 milhões de boed em 2028. Deste ano até o final do período, a produção operada, também crescente, está prevista em 4,7 milhões de boed.

A consistência do Plano de Negócios ora aprovado deve ser analisada à luz das condições enfrentadas pela Petrobras nos períodos anteriores ao da atual administração. Os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, de 2016 a 2022, estabeleceram, para o setor energético, o claro objetivo de privatizar a Eletrobras e a Petrobras. A Lei No. 14.182/2021 abriu caminho para a desestatização da Eletrobras, que ocorreu em junho de 2022 após um complexo processo de diluição acionária e a fixação de um preço de venda muito inferior ao valor real da empresa.

A privatização da Petrobrás, no entanto, sofreu forte oposição no Congresso, em setores progressistas da sociedade e na ala nacionalista das Forças Armadas. O valor estratégico do petróleo, o sucesso tecnológico e empresarial da Petrobrás e os resultados que vinham seno obtidos na exploração e produção do Pré–Sal foram fatores determinantes da resistência à venda da Companhia. Como alternativa à privatização, os governos Temer e Bolsonaro promoveram um processo de desmantelamento da empresa, para reduzir a sua participação no mercado e abrir espaço para empresas privadas, em especial as estrangeiras. Os instrumentos utilizados para viabilizar o processo de desmonte foram:

a) Redução das atividades da Companhia nos setores de gás natural, fertilizantes, petroquímica, energias renováveis, distribuição e importação de combustíveis;

b) Estabelecimento de uma política de preços para os combustíveis baseada na paridade com os preços internacionais (PPI), para tornar o mercado brasileiro mais atrativo e seguro para o capital privado;

c) Redução dos investimentos em pesquisa, exploração e desenvolvimento de novos projetos;

d) Venda de ativos estratégicos nos setores de refino, logística, petroquímica e de distribuição de combustíveis e gás natural.

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Essa tentativa de desmantelamento da Petrobrás repercutiu diretamente nos planos de negócios da Companhia e nos investimentos realizados durante os governos Temer e Bolsonaro. Entre 2007 e 2016, a Petrobras investiu US$341 bilhões (US$34,1bilhões\ano), enquanto, entre 2017 e 2022, correspondente aos governos de desmonte, o total investido caiu para US$11,9 bilhões/ano. Nos três últimos anos do governo Bolsonaro, a média anual foi ainda menor, de US$8,9 bilhões. A tabela abaixo compara os investimentos realizados nos três períodos mencionados com o previsto no PN 2026-2030.

Desde a sua criação, a Petrobrás cresceu de forma integrada e buscou adicionar valor ao petróleo mediante a produção de derivados, lubrificantes, petroquímicos e fertilizantes. Investiu em biocombustíveis, para preservar o seu “market-share” nos mercados de gasolina e diesel, e promoveu a diversificação de seus negócios com usinas termétricas, eólicas e PCH. Alcançou, já em 2015, um posicionamento estratégico de causar inveja às suas congêneres multinacionais.

A venda de ativos estratégicos, a partir de 2016, foi um equívoco monumental e colocou a Petrobrás na contramão das grandes petroleiras em todo o mundo. Os setores de refino, logística e distribuição são estruturantes do abastecimento do mercado nacional, principal negócio da Companhia e seu maior gerador de receita. A atuação nas áreas de petroquímica e fertilizantes permite adicionar valor ao óleo e ao gás natural e seus produtos terão  demanda crescente nas próximas décadas, constituindo um mercado pronto para boa parte do petróleo que será deslocado do setor de energia. A reconstrução da Companhia passa, portanto, pela retomada das atividades que foram afetadas pela política de desmonte dos governos anteriores.

O PN 2026-2030 está alinhado com o projeto de recuperação do posicionamento estratégico que a Petrobrás ostentava 10 anos atrás, lastreado na integração de atividades – do poço ao posto – na diversificação de negócios na área de energia e, agora, nos compromissos assumidos no âmbito do processo de transição energética. Um dos maiores desafios da Companhia, reconhecido no Plano, será a recomposição das reservas de petróleo e gás natural, a ser enfrentado com investimentos crescentes em pesquisa e exploração destinados a novas descobertas. Estão na mira, além das bacias do Sudeste, já produtoras, os prospectos da Margem Equatorial, da Bacia Sergipe-Alagoas e da Bacia de Pelotas.

A Petrobrás está de volta, exibindo uma extraordinária resiliência aos equívocos dos dois governos anteriores ao atual. Em seu retorno, a nossa campeã devolve a esperança aos brasileiros que nela sempre confiaram e decepciona aqueles setores que, historicamente, dão preferência à exploração de nossas riquezas por empresas estrangeiras. É a força do destino construindo o futuro de nossa maior, mais importante e mais admirada empresa.

Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro e trabalhou na Petrobras de 1963 a 2015. Foi Gerente de Empreendimentos, Gerente Geral de Engenharia e Assistente de Diretor. Cedido ao Governo Federal, de 1991 a 2005, ocupou cargos de direção nos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento: Secretário Nacional de Energia Adjunto, Presidente da Comissão Nacional de Gás Natural, Diretor de PROCEL e CONPET, Diretor de Gestão, Diretor de Programas Estratégicos e Assessor Econômico do Ministro do Planejamento.

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