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Raul Bergmann
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A falácia da aplicação financeira vista como investimento

Há décadas estão nos impingindo uma deformação de conceito de que a colocação de recursos em aplicações financeiras implicará que serã

Publicado em 21/08/2020
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Há décadas estão nos impingindo uma deformação de conceito de que a colocação de recursos em aplicações financeiras implicará que serão transformados em investimentos produtivos.

No entanto, a aplicação financeira visa o máximo retorno, mais rápido e sem risco que alguém conseguir obter, portanto, incompatível com investimento em patrimônio produtivo real, que implica em risco e longo prazo de retorno.

No Brasil nos acostumamos a ouvir que precisamos atrair capitais estrangeiros para gerar crescimento e empregos. Só que isso ocorrerá somente se houver investimento em aumentar a produção de bens e serviços, senão significará uma simples transferência de propriedade e de seus benefícios, sem impactos reais na economia.

Historicamente se verifica a entrada de recursos estrangeiros, como se investimento fosse, destinados à compra de ativos rentáveis em plena produção, já amortizados, e seus mercados. São uma mera aplicação financeira, apenas para exploração do lucro auferido dos brasileiros e sua remessa ao exterior, sem compromisso com investimento produtivo no País para a expansão da capacidade instalada ou dos serviços, emprego, renda e tecnologia.

Isso já ocorreu na desnacionalização de nossa produção siderúrgica, petroquímica, geração de eletricidade, da malha ferroviária, ativos da Petrobras como gasdodutos, BR-Distribuidora, Liquigás, entre outras, que não tiveram qualquer crescimento significativo. Chega-se ao cúmulo do BNDES financiar com poupança nacional essas entregas de nosso patrimônio, como no caso da Vale do Rio Doce.

Por outro lado, os compradores são fundos financeiros e empresas estrangeiras, privadas e estatais, desconsiderando-se completamente que foi graças a competência brasileira que se realizou, em 50 anos, um maiúsculo desenvolvimento do País, nos tirando de uma economia agro-pastoril, em 1930, estrangulada por monopólios estrangeiros, para uma pujante economia industrial, mas que agora está sendo destruída.

Essa falácia continua ocorrendo na venda de ativos rentáveis das estatais, concessões e de nosso parque produtivo, em que os proprietários estrangeiros desses patrimônios estão fazendo uma aplicação financeira, sem qualquer compromisso em investir produtivamente no País, pois com isso gerariam um concorrente internacional, abririam mão de um mercado importador cativo e diminuiriam seu poder geopolítico pel0 aumento de nossa autonomia. Fica fácil entender que o rendimento exportado jamais voltará para nosso desenvolvimento econômico e social, mantendo e agravando nossa dependência.

Esse quadro é mais agravado ainda, pois o que resta de nossa produção continua submetida a uma competição desigual com a estrangeira, ao ter que arcar com o Custo Brasil, as maiores taxas de financiamento do mundo, à queda na qualidade da educação da população, um rendimento financeiro superior ao obtido na produção, enre outros.

A falta de investimento real na produção nacional aumentará a dependência do exterior, pois acabará limitando a oferta de produtos e serviços nacionais. A saída será eles aumentarem os preços até viabilzar sua importação a preços internacionais, para uma sociedade com renda mais baixa e em queda. Além disso, se está aniquilando a capacidade de pesquisa e a engenharia nacionais, tornando-cada vez mais remota a possibilidade de uma recuperação de nossa autonomia para o desenvolvimento.

Essa prática está tão arraigada na nossa cultura que nem é percebido que o mesmo ocorre com nossas poupanças pessoais, que têm sua remuneração mantida acima da rentabilidade do sistema produtivo, baseada principalmente em papéis, com baixa participação na economia real, gerando um endividamento que estrangula o governo e com uma absurda concentração de riqueza e poder no sistema financeiro.

Estamos vivendo um capitalismo sem regulação que sempre tende ao monopólio, quando o correto deveria ser promover a iniciativa privada e estatal nacional, alinhada a um estratégico Projeto Nacional de Desenvolvimento, patrocinado pelo governo, visando a sustentabilidade da economia e da qualidade de vida da população, como garantia do sucesso e lucro numa economia real.

Um governo realmente voltado para o interesse nacional tem várias estratégias para efetuar essa retomada de desenvolvimento, como foi feito nos EEUU para sair da crise de 29; na China para seu boom de desenvolvimento; na Noruega, que passou de País mais pobre da Europa para o de melhor IDH do mundo e a segunda maior renda per cápita, pelo adequado uso da riqueza de seu petróleo somente em benefício de sua população.

Alguns exemplos de estratégias para geração de poupança e retomada de investimentos produtivos, alinhados com um Projeto Nacional de Paí, poderiam ser:

- redistribuição da carga tributária onerando a distribuição de lucros e dividendos, de modo a incentivar o reinvestimento na produção nacional de bens e serviços, com redução de impostos no consumo das famílias, gerando um aumento de sua produção;
- ação governamental para reduzir o Custo Brasil e nossas deficiências de produtividade, bem como definir estratégias, como as tributárias, para proteger nossa produção desses efeitos,
- um sistema de financiamento que privilegie o investimento em P & D e na produção de riqueza e serviços nacionais, de modo a garantir nossa sustentabilidade e competitividade;
- que o sistema de poupança e empréstimo, de baixo risco e rendimento, seja excludente do sistema de investimento de maior risco e rentabilidade, e menor liquidez;
- que a captação de recursos externos, tanto no prazo quanto na transferência de tecnologia, seja feita para realmente atender o interesse de desenvolvimento nacional sustentado;
- que o aproveitamento de nossos diferenciais competitivos como as riquezas minerais, petróleo, bacias hidrográfica e aquíferas, extensão territorial produtiva, seja feita exclusivamente em benefício dos brasileiros;

E a ação estratégica mais importante que é a capacitação inclusiva e integradora da população como principal agente e beneficiária de um Projeto Nacional de País que queremos para todos os brasileiros.

Eng. Raul Tadeu Bergmann
Conselheiro da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras

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