
A maior carência nacional: um Projeto de Desenvolvimento do Brasil para os Brasileiros – PDBB
Necessário criar um Movimento Nacional
O Brasil nas últimas décadas tem sofrido um processo de desindustrialização precoce e acelerado, sobretudo devido à fragilidade diante de pressões externas após as regras impostas na moratória de Sarney, nos anos 1980, e as reformas neoliberais de Fernando Henrique Cardoso, na década seguinte. A participação da indústria no PIB despencou de 35% para os atuais 9% ou 10%, nos remetendo a tempos análogos aos anteriores aos 50 anos áureos de desenvolvimento (de 1930 a 1980) superiores ao atual da China, voltando a uma grande desigualdade social, com baixa produção industrial e condições de trabalho, e sofrendo uma estagnação econômica e tecnológica.
Assim, já provamos que temos condições de alcançar elevados níveis de desenvolvimento, mas hoje somos um país subdesenvolvido e debilitado em sua soberania, sofrendo uma campanha de desqualificação do Estado.
Atualmente estamos assolados por debates importantes, mas setoriais, como gênero, aborto, segurança alimentar, violência, e outros, que perdem qualidade ao descambar para o sectarismo e o ódio, alimentados principalmente pelas modernas redes sociais e seus algoritmos, geradores de bolhas de (in)verdades absolutas, em lugar de estarmos debatendo as reais causas dos problemas e rotas para sua solução.
Não faltam recursos naturais ao país com as maiores riquezas naturais, como minérios, petróleo, água, terras agricultáveis, com elevada capacidade de produção de alimentos, e condições de produzir riquezas e desenvolver tecnologia, como já vimos, se tivermos oportunidade. Além disso, nossa população é nacionalista, agregadora, sem muitos conflitos, a não ser com uma casta estabelecida, que está distante de um PDBB e, ás vezes, até se opõe a qualquer ideia neste sentido.
Temos inúmeros exemplos de degradação da indústria nacional na produção de riquezas, como a nascente indústria de estaleiros, que progredia a olhos vistos, mas em poucos anos foi desativada; a construção do COMPERJ, no Rio de Janeiro, para produção de petroquímicos e óleo diesel, em que a obra com 95% executada foi desativada; a venda de gasodutos e refinaria da Petrobras, em que o resultado obtido do consumidor brasileiro está sendo transferido para grupos estrangeiros; a grave redução da indústria nacional na produção de bens de consumo, substituindo-os por ditos importados, que nada mais é que uma exportação de mão de obra, de riquezas para adquirir os dólares para pagá-los, e do resultado que essa produção teria; e assim vai.
Na contramão do Brasil, os chamados “Novos Tigres Asiáticos” e a China iniciaram seus processos de desenvolvimento a partir de um patamar muito inferior ao brasileiro, seja em PIB per capita, qualidade de vida ou alimentação de sua população. Todos se pautaram em torno de um projeto nacional de desenvolvimento, com um horizonte de 40 anos. No caso da China, até convidaram para ajudá-los proeminentes economistas ocidentais, não vinculados ao dogma do Estado Mínimo, especializados em gestão e desenvolvimento. E hoje é o que está aí, com uma gestão competente e comprometida com esse projeto, estando todos muitas vezes superiores ao Brasil.
Mas destaque-se aqui, que estes processos de profundos compromissos nacionais, carecem de um forte respaldo político, que possa permitir ao governo, levar estas bandeiras a frente, muito complexo no caso brasileiro, onde pequenas parcelas da população preferem o rentismo no curto prazo, que corrói a competência nacional, solapando-a. E aí temos espasmos de curtos voos setoriais de melhora, e após mergulho na realidade que a degrada.
Por isso, é fundamental que a estrutura política seja realmente representativa da Sociedade numa harmônica e permanente busca do bem comum, sem os extremismos e interesses setoriais que hoje nos assolam. Daí a importância de defender um axioma dessa natureza, com um projeto de desenvolvimento que oriente os investimentos e a dedicação de uma população ansiosa por uma oportunidade de melhorar sua qualidade de vida. Não tem sentido estarmos nessa situação de decadência por não enfrentarmos os interesses que nos impedem de progredir.
PDBB: um Projeto de Desenvolvimento do Brasil para os Brasileiros
No Brasil, a grande carência é justamente de um projeto nacional. Primeiro é preciso ter a ousadia de empunhar a bandeira de um Projeto, cujo tópico principal seria a busca do bem comum para sua população pela adequada gestão dos bens públicos e privados, para garantir a Soberania Nacional através de um Desenvolvimento Sustentado com Justiça Social, visando alcançar uma elevada qualidade de vida para todos.
Já tivemos projetos de desenvolvimento nacional, que nos propiciaram um grande progresso por mais de 50 anos, mas infelizmente tudo regrediu para a situação que hoje vivenciamos. Creio que não conseguiram suporte da Sociedade para resistir aos interesses que nos asfixiam no controle e utilização de nossas potencialidades e nos veem como uma ameaça, inclusive com campanhas de desqualificação do que é nacional, tanto do Estado quanto da produção e competência nacionais para retomá-los.
Neste contexto, dispomos de muitas organizações representativas, tanto públicas quanto privadas, com lideranças normalmente capacitadas e competentes, que podem ser estratégicas pelo seu efeito na economia, nas relações sociais, e, também, pelo seu caráter estruturante, mas hoje não estão centradas num projeto nacional para mudar o processo de decadência que estamos vivendo nas últimas décadas.
Essas instituições, em geral têm níveis municipal, estadual e federal, que, apesar de não abranger toda a população, são em grande número e competência, tendo um papel importante na nossa estrutura social, mas estão organizadas para defender/desenvolver interesses de segmentos parciais e ao se fracionarem em interesses corporativos, se fragilizam, e se não mirarem no interesse comum, que a todos é inerente, pouco vai avançar.
Elas serão fundamentais para a sinergia necessária a um projeto de desenvolvimento do país. Cito como exemplo as Universidades e instituições de ensino, Associações industriais, agrícolas e comerciais, OAB, ABI, Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Associações de funcionários do serviço público, Sindicatos patronais, profissionais e de trabalhadores, Associações financeiras, Associações Comunitárias, Sociedades e Associações em geral, inclusive de defesa da democracia e soberania, e muitas outras, mas que somente com a aglutinação de sua vontade de fazer um projeto nacional, as coisas não sairão do papel, por mais bem elaboradas que sejam.
Hoje vivemos um ambiente dividido, de descrença e ódios, que nos está sendo impingido pelos sistemas de comunicação, principalmente as redes sociais e seus algoritmos, que impedem nossa aglutinação para usar nossas potencialidades físicas, humanas e culturais em benefício dos brasileiros.
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Nessa situação quem tem mais a perder, e continuar perdendo, é a classe média, pois a classe dominante se preserva e se submete para usufruir, e a classe pobre pouco mais tem para perder, mas é a que mais tem a ganhar, apesar de sua pouca condição de se organizar.
Assim, acredito que somente com um Projeto de Desenvolvimento do Brasil para os Brasileiros - PDBB teríamos:
- um poder político com maior representatividade da população pelo seu comprometimento e ação no alcance dos resultados do PDBB, quando avaliado pelos eleitores na eleição, em função da atuação nos mandatos;
- um poder executivo podendo estruturar e reorganizar sua atuação para centrar seus recursos, competência e produtividade necessários ao atendimento dos objetivos definidos no PDBB, que também seriam avaliados pelos eleitores nas eleições pelos resultados alcançados;
- um sistema de educação visando melhores resultados no ensino pelas definições de foco e objetivos de atuação fundamentais para o PDBB, inclusive pela redução da evasão escolar e baixo aprendizado dos estudantes, pelas melhores de perspectivas de construção de seu futuro;
- uma iniciativa privada industrial, agrícola e de serviços podendo atuar alinhada com os objetivos previstos no PDBB, inclusive com menores riscos e financiamentos privilegiados, para alcançar sua justa rentabilidade pela produtividade e melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros;
- um sistema tributário como base para fomentar/promover/financiar o desenvolvimento sustentado do País, propiciando uma redistribuição mais justa dos benefícios de nossas riquezas, e sustentar os serviços públicos no atendimento das necessidades básicas de nossa população com efetividade e produtividade;
- um sistema financeiro orientado para investimento visando um crescimento sustentado e melhoria do poder aquisitivo da população, para auferir sua remuneração com menores riscos, e não ficar dependente do endividamento de um poder público restringido pela premissa do Estado Mínimo;
- uma infraestrutura que suporte o desenvolvimento das cadeias produtivas industriais e de serviços subsequentes, com produtividade para a população e competitividade para o País, evitando que a Sociedade fique refém de sua importação.
- um sistema midiático comprometido com o projeto de desenvolvimento, inclusive contribuindo para a elevação do nível de conhecimento e cidadania da população;
- um sistema de segurança com redução da violência e maior garantia da integridade dos brasileiros e seus bens, pela redução do campo de atuação das organizações criminosas e de cidadãos que tenham de recorrer isso para se sustentar;
- um sistema de saúde pública, já de alto nível, reduzindo as filas de espera, ampliando suas especializações e levando sua ação para a população em todo o território nacional;
- um sistema previdenciário autossustentável, que possibilite qualidade de vida vitalícia para a população após o fim de sua capacidade laboral, com a participação do Governo, podendo o patrimônio resultante das contribuições ser aplicado em investimentos básicos para o desenvolvimento, com uma remuneração justa e segura.
- e o principal: uma grande melhoria na qualidade de vida da população, principalmente pelo aumento das oportunidades, qualificação e remuneração do trabalho, pelo desenvolvimento sustentado com justiça social decorrentes do PDBB
Esses são alguns exemplos dos resultados, cabendo a cada um de nós e nossas organizações meditar sobre nossas contribuições para elaboração de um PDBB, e posteriormente sua execução e necessárias adequações, para alcançarmos resultados desse nível.
Mas fica a pergunta: “Porque, com todos nossos recursos e qualificações não conseguimos dispor, nas últimas décadas, de um Projeto de Desenvolvimento do Brasil para os Brasileiros? O que podemos/devemos fazer para isso?” Onde estão nossas lideranças nacionalistas, competentes e capacitadas para se unirem nessa missão?
Para a geração de um projeto para soberania nacional, com desenvolvimento sustentado e justiça social, será necessário criar um Movimento Nacional que fomente a aglutinação de núcleos em todas as instituições e pessoas que desejarem participar, visando contribuir e se engajar nesse debate, de modo que, através de uma coordenação adequada, aumentasse a qualidade, credibilidade e a base de sustentação de um PDBB.
Para tal, será necessária uma coordenação organizadora de núcleos de participação dos debates, tanto entre áreas afins, quanto municipais e regionais, (p.ex.: entre faculdades de diferentes Universidades, públicas e privadas – entre centros municipais afins, dentro das Federações, bem como entre federações, etc.) de modo a se produzir não só um projeto nacional, mas também ser integrado por projetos específicos para as diversas áreas e regiões. Além disso, deve ser considerado que a elaboração de um projeto de longo prazo dessa natureza e com objetivo comum será naturalmente mais convergente e harmônico, pois diminui os conflitos e desarmonias mais comuns do dia a dia.
Creio que temos muitos brasileiros nacionalistas, capacitados e competentes, no serviço público e privado, para liderar um processo dessa natureza, de aglutinação das contribuições objetivando alcançar um sustentável bem comum com justiça social em caráter permanente.
É necessário que lideranças nacionais se apresentem com coragem e desprendimento para uma nobre missão como essa, pois se nada for feito a decadência nacional das últimas décadas continuará pelas próximas, com consequências imprevisíveis.
Para conseguir a convergência e representatividade das contribuições temos hoje as redes sociais, que tanto nos assolam, mas que também podem muito ajudar, como pode ser visto com o surgimento de tantos produtores de informações idôneas e qualificadas, bem como redes e grupos setoriais já atuantes ou a serem criados, mostrando o caminho a ser usado para alcançar a convergência e aglutinação para atender esse objetivo.
Assim, acredito que temos uma multidão de brasileiros nacionalistas, capacitados e competentes para construir um
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DO BRASIL
PARA OS BRASILEIROS
que nos conduza a um maior Bem Comum apoiado numa Soberania Nacional com um permanente Desenvolvimento Sustentado com Justiça Social, que nos leve a uma elevada Qualidade de Vida de toda População.
Eng. Raul T. Bergmann - Conselheiro da AEPET – Associação de Engenheiros da Petrobrás
16/03/2025
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