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Ranulfo Vidigal Ribeiro
Ranulfo Vidigal
Ranulfo Vidigal Ribeiro é economista e consultor. Mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e doutorando pela UFRJ.

Afinal, quem paga a conta?

Rentistas, no Brasil, têm garantida uma renda anual de R$ 800 bilhões

Publicado em 28/04/2023
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Quase diariamente ouvimos falar dos graves problemas associados às crises simultâneas que nos afligem desafiando nossa criatividade para enfrentá-los. Me refiro ao desequilíbrio ambiental e sanitário, ou ao aquecimento global, por exemplo. Para o trabalhador, que aliás comemora seu dia em Primeiro de Maio, temos a intensificação da precarização das relações trabalhistas e o encurtamento do período de gozo de sua aposentadoria (causando forte reação na França nos dias atuais).

As crises conjuntas põem em xeque o modelo liberal de competição política, via eleições periódicas, trazendo à cena lideranças conservadoras que ganham relevo nas diversas disputas, ao redor do planeta. A via legislativa e o cretinismo parlamentar praticado por uma certa fração da ala progressista de representação política vem sendo incapaz de lidar com as enormes contradições do tempo presente. Um bom exemplo é o nosso País.

O fato concreto é que, no meio disso tudo, o capitalismo velho de guerra enfrenta mais uma crise cíclica, aprofundando seu caráter contraditório entre o modo social de sua produção em larga escala, em relação ao caráter privado da apropriação dos ganhos líquidos gerados no processo produtivo na forma de lucros, juros, rendas e dividendos.

Dados disponíveis no site da CVM confirmam que, no ano de 2015, a taxa de lucro média das 300 principais empresas brasileiras veio a praticamente zero, mas nos anos subsequentes foi se recuperando aceleradamente, mediante a implantação das reformas trabalhistas e privatizações postas em prática na terra da jabuticaba.

Para enfrentar e superar a crise, nossa elite dirigente opta pela redução dos ganhos salariais da classe trabalhadora e extensão efetiva da jornada de trabalho. Com isso, segundo dados do IBGE, cerca de 95% da força de trabalho empregada formalmente ganha, no máximo, cinco salários mínimos, enquanto o salário mínimo necessário para manter uma família de quatro pessoas pelas contas do Dieese é de seis SM.

Outro fator que atinge de cheio a classe trabalhadora é a subtração das rendas indiretas financiados pelo orçamento público, na forma de serviços de saúde, educação, energia, transporte público, água e esgotamento sanitário a preços módicos.

O orçamento público é capturado pelos rentistas, que no Brasil tem garantida uma renda anual de R$ 800 bilhões, em juros Selic da dívida pública federal, como foi muito bem demonstrado pelo senador cearense Cid Gomes, deixando constrangido o presidente do Banco Central, que insiste em manter em 13,75% a taxa básica de juros e, com isso, eternizar a estagnação econômica que arrasta a atividade produtiva no Brasil.

Na crise, tem-se ainda o acirramento da concorrência, associada a maior concentração (montante/tamanho) e centralização de capital (grandes firmas engolindo pequenas e médias) de capital. Aliás, como estamos observando no setor bancário no exterior.

O novo governo se elegeu prometendo mais crescimento, emprego e renda, mas tem enfrentado enorme dificuldade de implantar um programa reformista tímido esbarrando na força política de setores organizados que capturam o fundo público. Um desafio, pois se não entregar o prometido vai enfrentar um ressentimento político forte. Portanto...

Ranulfo Vidigal é economista.

Fonte: Monitor Mercantil

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