O Brasil, frente ao mundo em turbulência
Reflexões sobre desafios econômicos e estratégias para o Brasil em tempos de turbulência global.
Vivemos tempos de crises simultâneas de caráter financeiro, ambiental e social em um mundo dominado por conflitos simultâneos de grandes proporções, na Eurásia e no Oriente Médio. Na economia, a China passa por problemas no seu setor imobiliário, a Europa encara uma estagnação e nos EUA, na antevéspera da eleição presidencial, a política monetária restritiva do FED mexe com os nervos do mundo das finanças.
Receba os destaques do dia por e-mail
No Brasil, o primeiro impulso oriundo do orçamento fiscal menos rígido gerou aceleração do crescimento, mas parece perder força nos meses recentes. Em economia, colhe-se o que se planta, e políticas de desenvolvimento são influenciadas por fatores diversos como pressão de grupos de interesse, lobbies, poder das oligarquias políticas no Congresso Nacional e a prevalência de ideias e dogmas do rentismo de plantão.
Neste contexto, é razoável supor que o principal fator para trazer o impulso inicial para a retomada do desenvolvimento seria a vontade de remover obstáculos que impeçam a ativação de investimentos privados e o aproveitamento das oportunidades econômicas existentes. Neste aspecto, três frentes seriam prioritárias. Primeiramente, priorizar investimentos públicos nas áreas de educação, saúde pública e mobilidade urbana, bem como estimular a modernização da estrutura de tributação e direcionamento do crédito para fortalecer o setor industrial, que, por operar sob retornos crescentes de escala, tem a característica de ditar a produtividade média da economia e propagar economias externas eficazes para afastar a atividade produtiva do risco de estagnação. O terceiro ponto importante é ensejar efeitos encadeados de demanda para trás (backward linkage effects), mediante a expansão da oferta local de insumos produtivos, e para frente (forward linkage effects), via propagação de novas atividades produtivas induzidas pelo incremento da renda agregada. Olhando a conjuntura atual, isto parece bem possível.
Especificamente em 2023, depois do aumento real do salário mínimo, tivemos uma sequência de fatores explicando a retomada: o aquecimento do mercado de trabalho, a redução nos preços dos alimentos, as transferências sociais e a pequena redução na tributação do Imposto de Renda turbinaram o consumo, ajudando na recuperação da economia. Neste quadro, a massa salarial sobe 6%, depois de uma subida de 7% em 2022.
Dar sequência a esta conjuntura virtuosa é o desafio dos gestores de plantão.
Ranulfo Vidigal é economista.
Fonte(s) / Referência(s):
Gostou do conteúdo?
Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.