Hora de superar os juros abusivos!
Juros altos e abusivos travam a economia, postergam investimentos produtivos geradores de empregos, aumentam os encargos da Dívida Pública
Nos primeiros dias de agosto, teremos mais uma reunião do Copom – Comitê da Política Monetária do Banco Central (formado por uma casta que representa apenas os mil(!) gestores dos fundos e do dinheiro existente no mercado financeiro) para definir uma possível queda da taxa Selic – hoje em 13,75%, contra uma inflação de apenas 3,6%. Adicionalmente, o IBC-Br do Banco Central (prévia do PIB) com queda de 2% em maio acendeu a luz amarela sobre o desempenho da economia em 2023.
Receba os destaques do dia por e-mail
Juros altos e abusivos travam a economia, postergam investimentos produtivos geradores de empregos, aumentam os encargos da Dívida Pública e levam ao desespero as famílias endividadas, obrigadas a suportar juros no cartão de crédito da ordem de 300% ao ano.
O mercado financeiro, hoje muito empoderado politicamente, traz os valores da elite endinheirada numa sociedade altamente desigual e injusta. Tentam inclusive, culturalmente, definir qual seria o padrão de sucesso nessa sociedade periférica e dependente, com metade de sua população em idade produtiva desocupada e fora do jogo.
Estranhamente, os economistas ligados ao pessoal detentor de capital fictício (senhores que vivem de especular com os juros da Dívida Pública, ou de dividendos pagos pelas grandes empresas cotadas na Bolsa de Valores) costumam dizer que o orçamento do Estado brasileiro se assemelha ao orçamento familiar e defendem austeridade fiscal. Uma mistificação, pois finanças públicas e finanças pessoais são completamente diferentes.
Na crise, por exemplo, enquanto as famílias empobrecidas cortam gastos, o poder público deve fazer exatamente o contrário e gastar em infraestrutura e transferência de renda para famílias mais vulneráveis. Quando o Estado investe, o setor privado segue o mesmo comportamento na busca de lucro e segura a demanda agregada.
O Estado, via seu orçamento, tem a capacidade de definir quanto vai gastar, mediante impostos sobre as famílias mais ricas, ou emitir dívida e, moderadamente, dinheiro – pois ele é um regulador da sociedade, mediante políticas públicas ativas. O Estado escolhe a taxa que vai pagar pela dívida e tem a máquina de fazer o dinheiro de aceitação social. Simples assim! Se houver capacidade ociosa na economia, o poder público acerta ao agir.
O corte indiscriminado de gasto público, provocado por juros abusivos de tão altos, ao contrário do apregoado, não vai trazer de volta a “fadinha da confiança”. Na verdade, tende sempre a deprimir ainda mais a economia. Basta ver o sufoco no setor varejista.
Nesse contexto, é também um mito a tese de que “se o governo não cortar gastos, o nosso país vai quebrar”. Essa afirmativa esconde os interesses daqueles que querem os serviços sucateados e servidores mal remunerados e desmotivados, para depois justificar sua privatização. Em paralelo, austeridade fiscal, ao trazer recessão, produz desemprego, sobra de força de trabalho e redução dos salários no setor formal da economia.
Tudo se resume a interesses, meus caros. Portanto, economia e política andam juntos, ou seja, Estado e mercado são complementares e nunca competem entre si.
Ranulfo Vidigal é economista.
Fonte(s) / Referência(s):
Gostou do conteúdo?
Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.