O que muda no Brics com a chegada da Indonésia

Maior economia e população do Sudeste Asiático pode funcionar como elemento de equilíbrio geopolítico

Publicado em 09/01/2025
Compartilhe:
Reunião Brics Agosto 2023
Ricardo Stuckert/PR

A Indonésia tornou-se oficialmente membro do Brics na segunda-feira (06/01). Fundado oficialmente em 2009 pelo Brasil, Rússia, China e Índia, o grupo vem ganhando relevância como um fórum internacional para os países em desenvolvimento. Pouco após sua primeira cúpula, a África do Sul aderiu, e o Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos se filiaram em 2024.

Agora o bloco passa a incluir também o país mais populoso e maior economia do Sudeste Asiático, e procura consolidar sua reputação como alternativa ao G7, formado pelas maiores economias do mundo e liderado pelos Estados Unidos.

"Nós reiteramos repetidamente que o Brics é uma plataforma importante para a Indonésia fortalecer a cooperação Sul-Sul, e assegurar que as vozes e aspirações do Sul Global sejam bem representadas nos processos globais de tomada de decisões", comentou o porta-voz do Ministério indonésio do Exterior, Rolliansyah Soemirat. Jacarta "comprometeu-se a contribuir com as agendas discutidas pelo Brics, inclusive com os esforços para promover resiliência econômica, cooperação tecnológica e saúde pública", complementou.

Em 2023, o então presidente indonésio, Joko Widodo, recusara-se a colocar seu país no bloco, alegando precisar de tempo para refletir sobre os prós e contras e não querer "se precipitar". Seu sucessor, Prabowo Subianto, eleito em 2024, não tem esse tipo de ressalvas.

Contudo a guinada em Jacarta sinaliza mais do que uma simples mudança de governo: diante da percepção de uma ordem global politicamente desgastada e debilitada por turbulências econômicas e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, as nações do Sul Global se mostram cada vez mais dispostas a se aproximar de Pequim e Moscou, mesmo arriscando a ira de Washington. Mais de 30 Estados, inclusive do Sudeste Asiático, como Tailândia, Malásia e Vietnã, agora expressaram interesse ou se candidataram formalmente para filiar-se ao Brics.

Em nome de uma "ordem mundial multipolar"

Essa evolução do bloco no sentido de se tornar uma entidade geopolítica maior foi também impulsionada pela ascensão da China como potência econômica e política global. Pequim costuma invocar uma ordem mundial "multipolar", uma infraestrutura de segurança e finanças não exclusivamente dominada pelos EUA.

Os membros do Brics também têm discutido a dominância global do dólar americano, e a necessidade de arcabouços financeiros alternativos entre os países.

Diplomaticamente, enquanto símbolo de um panorama multipolar emergente, o Brics é importante tanto para a China como para a Rússia. O fórum promovido em 2024 pelo presidente Vladimir Putin mostrou que Moscou ainda conta com grande número de amigos pelo mundo, apesar das sanções ocidentais.

Comentando a decisão da Indonésia de associar-se ao grupo, o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Guo Jiakun, elogiou-a como "importante país em desenvolvimento e força de peso no Sul Global".

Cabe notar, entretanto, que o Brics não é um clube abertamente antiocidental: assim como o membro fundador Índia, a Indonésia mantém boas relações com países do Ocidente, sendo improvável que vá tomar partido na batalha geopolítica entre os EUA e seus rivais.

"A Indonésia não pretende se desligar do Ocidente, nem gradual, nem imediatamente", assegura M. Habib Abiyan Dzakwan, analista de relações internacionais do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) Indonésia. "No DNA da política externa indonésia, todos são amigos, como declarou [o presidente] Prabowo", e Jacarta "só quer ampliar seu campo de ação".

A avaliação de Dzakwan é que "se a Indonésia puder manter sua posição não alinhada e influenciar a agenda do Brics, com sua visão inclusiva de não excluir nem negar o Ocidente, acho que a filiação não deve ter muito impacto em nossas relações com o Ocidente".

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.
Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.

Preparando-se para o efeito Trump

Teuku Rezasyah, especialista em relações internacionais e docente da Universidade Padjadjaran, em Java Ocidental, acredita que o país sul-asiático poderá funcionar como um "equilibrador" dentro do Brics, enquanto mantém suas relações com os EUA e a União Europeia: "Como uma potência do meio, ser membro do Brics confere à Indonésia peso na ordem global."

Entretanto, com a posse de Donald Trump no fim de janeiro, as expectativas são de que os EUA vão se retirar do intercâmbio multilateral: em fins de novembro, o presidente eleito ameaçou excluir seus membros da economia americana, caso seja criada uma "moeda do Brics".

Alexander Raymond Arifianto, pesquisador associado da Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais (RSIS), crê que uma abordagem mais pragmática por parte do governo Trump pode fornecer à Indonésia uma oportunidade de formar parcerias mais fortes dentro de organizações regionais.

"Forjar parcerias mutuamente benéficas com outras nações sul-asiáticas não só fortalecerá a posição não alinhada da região, numa ordem geopolítica cada vez mais incerta, mas também confirmará tanto o status da Indonésia como líder da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático], como suas credenciais multilaterais, num momento em que os EUA estão pendendo para o unilateralismo", propôs Arifianto num artigo recente.

Fonte(s) / Referência(s):

Jornalismo AEPET
Compartilhe:
guest
1 Comentário
Mais votado
Mais recente Mais antigo
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários
Bruno Moreira Silva
Bruno Moreira Silva
10 de julho de 2024 08:06

Na reportagem faltou comparar a carga tributária do diesel, na bomba, na Bolívia e no Brasil.

OSCAR HUGO WEIDMANN
OSCAR HUGO WEIDMANN
10 de julho de 2024 11:15

Votei no L para adequar socialmente o preço dos combustíveis…o povo vai cozinhar à lenha mais intensamente

Cleuber Pozes Valadao
Cleuber Pozes Valadao
9 de julho de 2024 20:39

Proponho que a AEPET entre com uma representação junto ao TCU demonstrado o abuso de poder econômico da Petrobrás em vender combustível com lucro bem acima dos 30%, que pelo exposto chega próximo de 200%.

Justino Messias
Justino Messias
Responder a  Cleuber Pozes Valadao
10 de julho de 2024 09:11

E eu proponho que a AEPET reclame com o governo o abuso de poder estatal cobrando mais de 30% de impostos sobre impostos que chega a mais de 45% dos rendimentos dos trabalhadores!

VICENTE
VICENTE
Responder a  Cleuber Pozes Valadao
10 de julho de 2024 14:17

Eu proponho ações contra CPFs da estatal, do ministério da minas e energia, do presidente da República, da ANP, do Cade e da Abicom.

Paulo Machado
Paulo Machado
Responder a  VICENTE
24 de julho de 2024 17:34

Estou pagando quase 3.000,00 de PED para repor o dinheiro roubado da Petros com as bênçãos da Controladora.

Fabio
Fabio
10 de julho de 2024 09:22

Eu só não entendo um ponto. Antes das eleições de 2022 tudo que era dito apontava que se todos fizessem o L tudo seria resolvido. O que está acontecendo?

Mr President
Mr President
Responder a  Fabio
10 de julho de 2024 12:27

Pois e. Nem as refinarias da Bolívia tomaram de volta.

Gilberto Bueno
Gilberto Bueno
10 de julho de 2024 08:44

É verdade que a refinaria Abreu e Lima não pode refinar petróleo pesado, pois a unidade dela que ficaria a cargo disso não foi instalada nela?

Última edição de 8 meses atrás por Gilberto Bueno
Francisco Eduardo Almada Prado
Francisco Eduardo Almada Prado
13 de julho de 2024 01:49

Porque a Petrobrás está em mãos privadas , que só pensam em seu lucros, e o país todo é explorado . A empresa mais lucrativa no Brasil, não é mais brasileira. Deveria ser . Fora… Ler mais »

Edi Müller
Edi Müller
13 de julho de 2024 18:35

O Governo Federal e o Governo dos Estados federativos e a indústria do biodiesel faturam alto em cima dos preços ofertados nas refinarias, bem como a própria Petrobras que opera com elevada margem de lucro.… Ler mais »

MR PRESIDENT
MR PRESIDENT
11 de julho de 2024 09:25

Será que na Bolívia é mais barato porque “tomaram” as refinarias da BR?

Josés do Brasil
Josés do Brasil
13 de julho de 2024 13:16

A única incapacidade que vejo aqui, é da Petrobrás que há anos não consegue suprir o mercado de refino, por desvios de governos de esquerda. Por esse motivo existe a dependência da importação e refinarias… Ler mais »

Sandra M.S.Alves
Sandra M.S.Alves
Responder a  Josés do Brasil
17 de julho de 2024 01:00

É preciso entender que a Shell e a petroleira britânica e as da Arábia no Brasil não deixam Petrobrás se desenvolver. Esse looby das empresas estrangeiras não estão nem aí, para o povo que precisa… Ler mais »

Gildasio Fernandes Dantas
Gildasio Fernandes Dantas
10 de julho de 2024 09:42

Eu acho acertado o criterio da Petrobras. Hoje com o aquecimento global não devemos reduzir o preço dos combustiveis fosseis tal como na Venezuela, Bolivia. Eu acho ridiculo alguns caminhões com uma propaganda de “Combustivel… Ler mais »

Atento
Atento
10 de julho de 2024 10:50

Tanto o artigo quanto os comentários se mostram totalmente fora da realidade. Mesmo com o aumento de anteontem, o combustível ainda está 10% defasado do preço internacional e a Petrobrás voltou a arcar com o… Ler mais »

Gostou do conteúdo?

Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.

Continue Lendo

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.

Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.

1
0
Gostaríamos de saber a sua opinião... Comente!x