Siga a AEPET
logotipo_aepet
Vários autores; Autor sem foto
Paul Krugman

"A síndrome do coronavírus de Estocolmo"

foi a maneira como a administração Trump e muitos outros conservadores americanos se apaixonaram pela Suécia. Sim, pela Suécia, onde a atenç

Publicado em 23/11/2020
Compartilhe:

foi a maneira como a administração Trump e muitos outros conservadores americanos se apaixonaram pela Suécia. Sim, pela Suécia, onde a atenção universal à saúde é quase que integralmente uma tarefa do Estado, onde os impostos chegam a 44% do PIB, comparados com os 24% praticados aqui, e onde dois terços da força de trabalho é sindicalizada.

Em outras palavras, a Suécia é um exemplo de tudo aquilo que os conservadores mais odeiam; sua própria existência é a negação de suas afirmações de que impostos baixos e um tratamento mais duro para com os mais pobres são essenciais à construção da prosperidade nacional.

Todavia, neste ano de Covid, a Suécia optou por um caminho diverso dos outros países europeus. Ao passo que seus vizinhos impunham “lockdowns” para limitar o espalhamento do coronavírus, a Suécia escolheu seguir a estratégia da “imunidade de rebanho” – permitindo que o vírus se espalhasse, na crença de que, uma vez que uma dada quantidade de pessoas fosse infectada e desenvolvesse anticorpos, a pandemia se extinguiria por si mesma.

Não conheço o bastante acerca da política e da sociedade suecas para saber por que as autoridades suecas tiveram tanta vontade de seguir seu próprio caminho, confiantes de que entendiam mais a pandemia do qualquer outra sociedade no mundo.

Sei apenas que a direita nos EUA se apegou ao exemplo sueco, porque os suecos estavam fazendo exatamente o que ela mesma queria fazer a respeito do coronavírus nos EUA – nada!

Fora os detalhes, este é um padrão já comum na América. De modo geral, não gostamos de aprender com as políticas de outras nações. Mas, de vez em quando, a direita dos EUA se apaixona por um país pequeno e longínquo, sobre o qual nada sabem, e em cuja experiência acreditam, o que confirma seus preconceitos.

Por exemplo, houve um breve período, em meados dos anos 2000, em que os conservadores americanos quiseram privatizar o Seguro Social, cantando constantemente canções de louvor ao sistema de aposentadorias do Chile que, afirmavam, tinha demonstrado o modo maravilhoso segundo o qual as reformas propostas por eles iria funcionar aqui. Com o tempo, os próprios chilenos passaram a odiar seu sistema, o qual, segundo eles, lhes garantia muito pouca segurança, ao ponto de, em 2008, eles o terem alterado para que funcionasse nos moldes do .... Seguro Social americano.

Assim foi também com a reação da Suécia à pandemia. Os conservadores – e de modo notável, o Dr. Scott Atlas, o não-epidemiologista da Hoover Institution que se tornou o principal conselheiro de coronavírus de Donald Trump – se apressou em abraçar o modelo sueco. Atlas continuava a elogiar o modelo sueco até o mês passado.

No ínterim, os suecos estão tacitamente admitindo que cometeram um terrível equívoco.

As autoridades suecas descartaram a experiência do país na Primavera, quando lá ocorreram muito mais infecções e mortes do que em seus vizinhos nórdicos. Mas, espere, eles disseram: estamos desenvolvendo imunidade de rebanho, então não teremos uma segunda onda no outono, enquanto nossos vizinhos terão.

Então veio o Outono e a Suécia está sendo vítima de uma segunda onda – bem pior que a onda em seus vizinhos. E na segunda-feira (17/11) o país passou a impor restrições às reuniões públicas, embora ainda esteja hesitando em fazer um bloqueio mais amplo.

Infelizmente, não creio que a falência do modelo sueco possa alterar as crenças de muitas mentes por aqui. É conforme disse um anônimo: “a moderna direita americana não crê em políticas baseadas em fatos; aproveita ou, se necessário, inventa fatos que parecem apoiar o que ela crê e quer fazer de qualquer maneira”. E, obviamente, Donald Trump, que ainda será presidente por mais dois meses, nunca admitirá algo inconveniente - até mesmo o fato de que perdeu a eleição.

De qualquer modo, o caso de amor dos conservadores com a Suécia terminará muito breve. E eles voltarão a denunciar o que restou de um país decente como um dos “falidos estados de bem-estar social” da Europa.

Traduzido do Inglês por A. Pertence

Publicado originalmente no The New York Times em 17 de novembro

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.
Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.
guest
0 Comentários
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários

Gostou do conteúdo?

Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.

Mais artigos de Paul Krugman
Publicado em 26/02/2021
Publicado em 27/11/2020
Publicado em 30/01/2020
Publicado em 21/08/2019

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.

Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.

0
Gostaríamos de saber a sua opinião... Comente!x