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Paul Krugman

Ideias zumbis e empresas zumbis

Eu cunhei algumas frases sobre economia das quais tenho orgulho: “a economia de Leprechaun” para a distorção das estatísticas produzida pe

Publicado em 30/01/2020
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Eu cunhei algumas frases sobre economia das quais tenho orgulho: “a economia de Leprechaun” para a distorção das estatísticas produzida pelas corporações multinacionais na busca dos paraísos fiscais, “as feiras de confiança” para a crença de que o crescente investimento privado irá recompensar os países que impuseram uma austeridade selvagem a seus cidadãos. É triste dizer que não criei o termo “ideia zumbi” que se refere à crença que já deveria ter sido eliminada pela evidência, mas continua cambaleando junto com os devoradores de cérebros humanos; eu o roubei de um antigo artigo sobre o cuidado com a saúde no Canadá, em todos os aspectos.

Entretanto, provavelmente, eu tenha feito mais do que ninguém para dar ao termo a maior divulgação possível. Fiquei gratificado ao ver Steve Mnuchin, secretário do tesouro de Trump, reafirmar o que eu chamo de zumbi final; apesar de todas as evidências, esses cortes de impostos irão se pagar.

Há, todavia, outros zumbis engolindo o que está em seu caminho através do discurso econômico. Em especial, um deles se refere precisamente às “empresas zumbis”: são empresas que, na realidade, deveriam estar fechadas, mas continuam operando graças a subsídios, empréstmos governamentais, e assim por diante.

O que eu não entendia completamente até fazer as pesquisas para a coluna de hoje era até que ponto o setor dos combustíveis fósseis tinha se tornado um setor zumbi. Se os produtores de carvão, petróleo e, em menor escala, de gás natural tivessem realmente que pagar todos os custos que impõem à sociedade, a maior parte do setor iria à falência, sendo substituído pela energia renovável.

Na coluna mencionei as estimativas do Fundo Monetário Internacional sobre o efetivo subsídio recebido pelo setor de combustíveis fósseis. Parte daquele subsídio reflete a redução tributária e de outros ítens orçamentários. Outra parte reflete a estimativa do FMI para o custo das emissões de gases de efeito estufa, o qual muitos economistas suspeitam que estejam no lado mais baixo. Os grandes custos, entretanto, envolvem os efeitos da poluição sobre a saúde, o que é, literalmente, um matador real.

Conforme comentei, o FMI quantificou os subsídios aos combustíveis fósseis nos EUA em mais US$ 600 bilhões ao ano ou mais de US$ 3 milhões para cada trabalhador na indústria. Outra comparação, que não cheguei a fazer, foi a de que o valor de mercado da produção de combustíveis fósseis em 2017, o ano de comparação, chegou a menos de US$ 300 bilhões. Assim, a indústria de combustíveis fósseis nos EUA destrói muitos bilhões de dólares de valor a cada ano.

Isto que dizer que a produção de combustíveis fósseis iria desaparecer totalmente se a indústria tivesse que arcar com todos os seus custos? Não necessariamente. É uma loucura queimar carvão para gerar eletricidade, quando esta deveria vir de fontes renováveis e de plantas nucleares (sim, acredito nisto), e existe um papel coadjuvante a ser desempenhado pelo gás natural, que forneceria energia em uma quantidade limitada, no caso de algum surto de demanda.

Em outros usos dos combustíveis fósseis, como os transportes aéreos e marítimos, poderia haver maior resistência à mudança. E tenho ouvido que há outras aplicações industriais em que é muito difícil operar sem a queima do que seja lá o que for.

Porém, parece mesmo que muito – senão a maior parte – do setor de combustíveis fósseis sobrevive apenas porque recebe subsídios escandalosamente altos. Assim, ele é um setor zumbi; com a exceção de, em lugar de estar comendo nossos cérebros, ele pode estar devorando nossa civilização.

- O consumo de carvão nos EUA está afundando, apesar dos elevados subsídios.

- Uma parte disto tem a ver com o progresso na tecnologia das energias renováveis, que está numa curva ascendente acentuada de aprendizagem e desenvolvimento.

- Mas Trump continua tentando forçar a América a queimar carvão, em nome da segurança nacional.

- Alguém se recorda da força-tarefa de Cheney (vice-presidente dos EUA no período 2001-2009) que via os grandes aumentos no consumo de combustíveis fósseis, especialmente de carvão, como o único caminho real para avançar?

Paul Krugman é economista e colunista de opinião do New York Times

Traduzido do Francês por Argemiro Pertence

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