Sim, nós somos bananas

A coluna de hoje é sobre a decisão claramente nociva de Steven Mnuchin, o secretário do tesouro de Trump, de acabar com os programas de empréstimos que ajudaram a evitar uma séria crise na última primavera e que poderia ser necessário outra vez caso o coronavírus se tornasse ainda mais selvagem do que tememos após do Dia de Ação de Graças. Como já argumentei, é difícil ver a ação de Mnuchin como algo diverso de vandalismo - destruindo a economia e a nação, utilizando o pior dos caminhos.

O fato é que este tipo de irresponsabilidade é muito comum – nos países centrados na economia e na política. Talvez seja isto o que a América é atualmente.

À medida que esta questão tem estado a acontecer, já gastei bastante tempo estudando e tentando analisar as crises financeiras. Antes de começar a escrever para o Times, as finanças internacionais eram uma das minhas especialidades. E era uma vez as crises que eram essencialmente problemas que aconteciam em outros países, especialmente nos menos desenvolvidos. (eu costumava me chamar de caçador de ambulâncias econômico, sempre voando para Jacarta ou Buenos Aires a fim de colher dados sobre o último desastre).

Na verdade, lá atrás eu iniciei a transição de ser um puro acadêmico para passar a fazer política e alguma análise política, eventualmente levando-as para o meu show no Times, durante a crise financeira asiática no final dos anos 1990. Mesmo então, passei a me preocupar com o fato de que não éramos imunes aos tipos de problemas que então afligiam países como a Tailândia e a Indonésia. Escrevi um livro em 1999, A volta da economia da depressão, a respeito deste risco; ele se tornou ultrapassado assim que escrevi uma versão atualizada dez anos depois, "A volta da economia da depressão e a crise de 2008", refletindo o fato de que a América tinha sofrido o tipo de crise econômica que até então só víamos ocorrer no Terceiro Mundo.

Não cometa o erro de pensar que isto aconteceu de repente, sem aviso. Os Republicanos têm estado sistematicamente a minar, durante anos, a democracia através da supressão de votantes, divisões de condados que lhes tem dado o controle das assembleias dos estados, mesmo quando perdem no voto popular por largas margens, tirando o poder dos governadores democratas e procurando acusar criminalmente seus oponentes.

Finalmente, não inclua os dois lados nisso. A decadência da democracia dos EUA não tem a ver com "política"; ela decorre do afastamento de um partido da democracia. Atualmente, o Partido Republicano não tem nada a ver com outros partidos de centro-direita de países avançados; ele se parece mais com o Fidesz, aquele que transformou a Hungria em um estado de partido único do que, digamos, com o Conservador (Tory) britânico.

Por que tudo isso está a ocorrer? A verdade é que eu não entendo plenamente este fenômeno. Nem o entendem os cientistas políticos, embora estejam trabalhando para entender (e eu tentando acompanhar seu trabalho). Porém, ele está a acontecer e a posse de Joe Biden não porá fim a essa história.

O que eu não vi aparecer foi o lado político. Não é como se a América estivesse a sofrer das crises econômicas que assolam o Terceiro Mundo. Nós também escorregamos para uma política típica das repúblicas de bananas, ao nos tornarmos o tipo de país no qual um presidente é capaz de se recusar a aceitar uma clara derrota eleitoral – e ser apoiado pela maioria de seu partido.

O cientista político Brendan Nyhan gosta de apontar os ultrajes contra a democracia americana e perguntar: "o que você diria se visse isto ocorrer em outro país?" É uma questão retórica, é claro: nossa democracia está muito perto de falhar.

Traduzido do Inglês por A. Pertence

Fonte: NY Times / Folha