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Paul Krugman

O ataque das galinhas sem cabeça

Uma das expressões favoritas de meus pais a respeito de uma pessoa em pânico era “ele está correndo em círculos como uma galinha sem cabeç

Publicado em 21/08/2019
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Uma das expressões favoritas de meus pais a respeito de uma pessoa em pânico era “ele está correndo em círculos como uma galinha sem cabeça.” Como um menino de subúrbio eu não tinha a mínima ideia sobre se as galinhas decapitadas corriam em círculos de fato. Todavia, a expressão cai como uma luva em Trump e seus funcionários da área econômica nos últimos dias.

Por ora, as notícias econômicas não são, a rigor, tão ruins, pelo menos por enquanto. Houve redução na previsão de crescimento, provavelmente para algo próximo a 2%, a indústria teve queda e o déficit comercial tornou-se maior, não menor. O mercado de títulos está a sinalizar depressão, porém o quadro não se parece em nada com o do início de 2008. Deixemos 2008 para lá.

Mas Trump e seu círculo mais próximo estão agindo – para confundir minhas metáforas de galinha – como se o céu estivesse desabando. Trump está atacando o que ele considera uma conspiração para apanhá-lo. Está acusando o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) de sabotar o crescimento, embora as taxas de juros sejam, na verdade, bem inferiores às projetadas pela administração em suas próprias previsões rosadas em relação ao ano passado. Também está culpando os Democratas que, segundo Trump, “estão tentando ‘forçar’ a economia a se tornar ruim.”

A propósito, é novidade para mim que a oposição possa afundar a economia simplesmente com pensamentos malvados. Desde que o termo “voodoo economics” (economia calcada em bases não realísticas) passou a ser usado, eu sugeri que chamássemos isto de “hootoo economics” (economia de fetiches).

De qualquer modo, Trump e companhia estão causando tumulto. Trump está exigindo flexibilização das políticas drásticas do Fed (Federal Reserve), em uma escala que normalmente só acontece quando a economia está claramente a caminhar para a recessão. As autoridades também apresentaram um papel onde sugeriram uma redução nos impostos para acelerar o consumo, ao tornar disponível mais dinheiro nas mãos dos trabalhadores.

O que nos impressiona em todas essas propostas não é somente o evidente pânico que elas demonstram. É a admissão implícita de que o pensamento econômico Republicano tem estado errado todo esse tempo.

Alguns leitores devem se lembrar dos furiosos ataques do GOP (sigla do Partido Republicano) contra o Fed para que este buscasse uma política de dinheiro fácil no biênio 2010-2011, quando a economia precisava desesperadamente de uma rápida aceleração em face do alto índice de desemprego. Estas políticas, afirmavam os líderes Republicanos, levariam à inflação e a uma “desvalorização” do dólar. Agora Trump está a exigir uma política similar, muito embora o desemprego esteja em um nível historicamente baixo.

Os Republicanos também denunciaram e ridicularizaram os esforços da administração Obama quanto aos incentivos fiscais, que incluíam redução de impostos sobre salários visando elevar a renda do trabalho e levar a um aumento de consumo. O corte de impostos feito por Trump, em 2017, basicamente não alcançou os trabalhadores ordinários, concentrando os maiores cortes nas corporações, com base na teoria de que esses cortes iriam respingar na classe média. Agora, a administração Trump está a admitir francamente que os respingos não estão dando resultado e que o incentivo à moda Obama é realmente o caminho certo a seguir.

Pelo que valem, eu não acho que provavelmente qualquer uma dessas medidas desesperadas venha a ocorrer em breve. O Fed não existe para ser intimidado por um presidente que ele acredita ter causado perdas à economia com sua guerra comercial. E enquanto os Democratas puderam suportar uma redução limpa nos impostos sobre os salários que, de fato, beneficiou os trabalhadores, eu creio que os Republicanos não terão a habilidade para resistir à tentação de enfeitar suas propostas com mais benesses para os ricos.

Traduzido do Inglês por A. Pertence

Fonte: NY Times

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