O objetivo é corrigir a política adotada a partir de 2000, quando a remuneração dos gestores foi elevada de maneira desproporcional à percebida pelo conjunto dos petroleiros.
Leia abaixo a íntegra da correspondência protocolada no dia 25 de setembro:
AEPET 010 / 17
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2017
Ao
Presidente da Petrobrás
Pedro Pullen Parente
Av Henrique Valadares, 28/18º andar
Nesta
Assunto: Adicional de remuneração das Funções de Confiança
Referência: AEPET 009/16 - Alteração nas funções de confiança - a Petrobrás sem “Excelências”
No momento em que a direção da Petrobrás discute o Acordo Coletivo de Trabalho, gostaríamos de propor à direção da companhia que inicie o processo de adequação do adicional pago à Funções de Confiança, retornando aos praticados no início dos anos 2000.
Os gerentes e coordenadores tiveram na ocasião um substancial aumento nas remunerações, tanto mais significativa em termos percentuais quanto mais novo eram na companhia. A justificativa foi a perda de profissionais experientes para os concorrentes, em função da abertura do mercado petrolífero do país.
2. Como comentávamos em nossa correspondência em referência “Anteriormente, a remuneração adicional de gerente tinha um peso relativo muito menor. Com a alteração, passaram a temer muito mais pela perda da função, que poderia reduzir em alguns casos, à metade do salário.
Como era de se esperar, este receio se traduziu em evitar qualquer tipo de comentário que pudesse contrariar uma recomendação superior, ainda que para alertar para algum possível prejuízo para a empresa.
Os esquemas de corrupção evidenciados pela Operação Lava Jato poderiam ter sido evitados caso houvesse espírito crítico e resistência dos níveis hierárquicos inferiores das áreas envolvidas, apoiados no conhecimento do seu Corpo Técnico.
Este fator levou a decisões discutíveis que poderiam ter sido evitadas, se não existisse este grau de subserviência.
Podemos afirmar que em boa parte foi o medo à perda da função gratificada que inibiu atitudes críticas que poderiam ter prevenido tais desvios. “
Desde então, o que mais se passou a ouviu, na condução dos assuntos internos, foi que "temos que atender à solicitação do cliente, pois a decisão já foi tomada".
“Cliente” foi a denominação que passou a ser utilizada para denominar os órgãos da Companhia que solicitavam serviços, por exemplo, ao Cenpes e Engenharia.
Antes, éramos todos Petrobrás, e este era o foco para decidir o que era melhor. Hoje, cada gerente é cobrado e tenta otimizar o que é melhor para sua administração e seus indicadores, ainda que não seja melhor para a Companhia.
Consultor Técnico
3. Sobre o assunto, na correspondência citada: “A função Consultoria Técnica foi criada na ocasião, sob a mesma justificativa: reter talentos num momento de intensa competição e abertura do mercado petrolífero brasileiro.
Aqui tinha-se uma grave distorção: o consultor é especialista na sua área de atuação pelos conhecimentos acumulados ao longo de sua carreira, deve ser reconhecido como tal pelo corpo técnico e atuar na solução de problemas da companhia e na disseminação de conhecimento.
Não faz sentido ser classificado como função de confiança. Confiança de quem? É reconhecido como competência técnica pelos seus pares e não por aceitar dar um parecer que possa atender ao desejo de um gerente, mas que não seja tecnicamente adequado. “
4. O corpo técnico da companhia sempre reivindicou a criação de uma carreira de especialistas, a exemplo da gerencial, também denominada carreira Y, permitindo evitar que um bom técnico viesse a se transformar num mau gerente, apenas para ter a oportunidade de ascensão na companhia.
A consultoria técnica não deve ser uma função de confiança. Os consultores devem ser avaliados pelos seus pares, levando em consideração suas contribuições na solução de problemas da companhia e na disseminação de conhecimento.
Acreditamos que a medida contribuirá de forma efetiva para o retorno da Petrobrás aos valores e à missão confiada pela sociedade brasileira que criou a Companhia, dentro de uma cultura de equipe e de desenvolvimento do País.
Atenciosamente,
Diretoria da AEPET
C.C Diretor executivo de Assuntos Corporativos Hugo Repsold Júnior
Comentários
Sempre há que se contrapor argumentos. Esta história de que já está decidido e tem que obedecer e ponto é uma atitude de quem pensa em se manter, sem argumentos para convencer seja para cima ou para baixo.
Mais uma vez, é importante dizer que a Petrobrás é permanente, as administrações são temporárias. Quem paga nosso salário é a companhia e não a administração que logo estará fora.
Os altos salários que eram motivo de críticas do movimento sindical, deixou de sê-lo e a única iniciativa dos tempos do Reichstul que foi alterada foi o bônus. As Unidades de Negócio, os salários e tudo o mais foi mantido.
Os políticos, financiados por elas, tentam indicar diretores para cobrarem comissões para se elegerem e para seus bolsos.
Cabe ao corpo de empregados protegere a empresa destas indicações e de suas ações. Aos cidadãos - e aqui novamente os empregados se incluem, cabe denunciar as indicações políticas.
Afinal, a empresa e os empregados são permanentes, enquanto as administrações são passageiras.
Infelizmente, as empreiteiras e políticos conseguiram que os "crachás de aluguel" se dispusessem a causar prejuízos à empresa, que lhes paga os salários e garante o sustento de suas famílias. Sempre a ganância...
Os problemas de corrupção não são apenas os casos de desvio de verba revelados pela justiça. A corrupção está nas mínimas decisões, tomadas acriticamente, para satisfazer relações de poder.
Vou dar um exemplo da realidade atual: os diretores afirmam categoricamente que a Petrobras precisa se desfazer de vários ativos para reduzir a sua dívida. Mentem descaradamente, tentando vender um plano de salvação da empresa, quando o objetivo claro é privatizá-la. Alguns diretores, petroleiros concursados com longa carreira na companhia, continuam a bordo desse movimento, mesmo isso sendo danoso à Petrobras e trazendo enormes prejuízos à empresa, como os decorrentes da venda da NTS, apresentada em artigo pela AEPET.
Os prejuízos financeiros da corrupção "legal" são da mesma ordem de grandeza dos prejuízos causados por desvios de verba.
Nestes casos, a omissão dos empregados é indubitavelmente decisiva para a continuidade do desmonte da empresa.
O artigo não está apontando o dedo para um ou outro gerente, nem afirma que os danos potenciais de ações corporativistas de um gerente setorial têm o mesmo alcance que os de um diretor. Além disso, o texto não fala que os consultores são subservientes aos seus gerentes, apenas que o cargo de consultor não deveria ser cargo de confiança, mas o resultado do reconhecimento dos próprios técnicos.
A realidade é que quem não era alinhado com a antiga gestão chegava até a perder o cargo, especialmente nos escalões mais altos, e não dá pra negar que isso continua acontecendo.
Por isso é tão importante rever a política de gratificações gerenciais, porque quanto maior o adicional recebido por um gestor, maior o seu medo de perder o cargo e menor a chance do mesmo questionar as decisões dos seus superiores.
Pode-se discordar dos objetivos, mas essa quadrilha realizou os dela, de roubalheira, com louvor, não foi?
A roubalheira ELEITORAL E ELEITOREIRA que começou no Brasil repetiu-se na Petrobras, na Caixa, nos Correios, nos fundos de pensão (acho que só BB escapou) e, principalmente, no BNDES, servindo a empreiteiras, ditaduras e (des)governos a partir de 2003.
Só não vê quem não quer!
E a AEPET foi e é conivente com isso!
O principal objetivo da AEPET nesse momento é tentar impedir o desmonte da companhia, por isso, acredito que escrever uma carta ao presidente da companhia tratando do plano Petros não é prioridade para a entidade.
No entanto, se você quiser colaborar com essa iniciativa, entre em contato com a entidade e proponha uma parceria.