No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS da última quarta-feira (23/06), o jornalista Breno Altman entrevistou Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, conhecido como "O pai do pré-sal", por ter comandado a descoberta e exploração da principal reserva brasileira de petróleo.
Para ele, "o golpe de 2016 acabou com a Petrobras", pois ela perdeu as características de empresa estatal.
"A Petrobras não é só o pré-sal e as refinarias. Carrega em si o movimento do povo brasileiro nas ruas, exigindo que o petróleo fosse nosso. Expandiu-se por todo o território nacional, abarcou toda a cadeia produtiva do petróleo, a indústria petroquímica, estava junto à população, impulsionando a cultura, o esporte, gerando empregos. Tudo isso acabou. A Petrobras já não participa do crescimento integral do Brasil", lamentou Estrella.
Segundo ele, os fatores que levaram a esse desmonte foram: o fim do sistema de partilha, a remoção da empresa como operadora única - proposta do senador José Serra (PSDB-SP) -, e o "decreto do trilhão", que isentou as empresas operadoras de impostos de importação.
"O fim do marco regulatório, que colocava a Petrobras como operadora única, rompeu com um dos pilares do que é uma empresa estatal. E ao isentar as empresas operadoras de impostos de importação, mataram o conteúdo nacional, a nossa política de desenvolvimento industrial. Deixou de ser uma empresa petrolífera no governo [Michel] Temer e este governo a transformou num fundo de investimento", argumentou o ex-diretor.
Ele disse, entretanto, que não acredita que a Petrobras seja irrecuperável. Para Estrella, desde 2016, o Brasil vive governos ilegítimos, de modo que não se pode considerar "os atos cometidos contra a Petrobras como constitucionais"
"Estamos sob um governo de ocupação civil instalado para servir aos interesses e objetivos de um país estrangeiro. Isso precisa ser revertido por meio de plebiscitos revogatórios", defendeu.
Reestruturando a Petrobras
Além de um plebiscito revogatório, Estrella detalhou quais as medidas a serem revogadas e refletiu sobre quais outras devem ser adotadas para reestruturar a estatal.
"Energia é soberania nacional. A venda de ativos estratégicos da Petrobras atenta contra a soberania nacional. A venda da distribuidora BR, que é a nossa presença no mercado interno, não atende à Constituição de 1988. As duas coisas precisam ser revertidas", citou.
Ele também argumentou a favor da retomada do esquema de partilha e da Petrobras como operadora única, "apostando em conteúdo nacional, com intenção social", dominando toda a cadeia produtiva.
Nesse sentido, ele celebrou as políticas adotadas pelos governos petistas, que devem servir de referência para a reconstrução da Petrobrás, como empresa "protagonista do setor de petróleo e gás natural no Brasil". Por isso, ele se mostrou favorável ao fechamento de capital da estatal.
"A abertura de capital na bolsa de Nova Iorque, por Fernando Henrique Cardoso, nos prendeu a regras da bolsa e à legislação dos Estados Unidos. Precisamos sair dessa dependência que nos tira soberania de gestão da maior empresa brasileira em matéria estratégica para o desenvolvimento nacional", reforçou.
Impacto da Operação Lava-Jato
Estrella também comentou sobre os casos de corrupção na Petrobras e o impacto que teve a Operação Lava-Jato na reputação da empresa.
"Para nós, não havia nenhum motivo para desconfiar do que estava acontecendo. Mas aconteceu. Aí veio a Lava-Jato e trouxe isso a público, tendo um impacto muito negativo na companhia", confessou.
Ele lamentou que, em vez de punir os culpados e preservar a empresa, a Lava-Jato foi utilizada para destruir a Petrobras "e a própria soberania brasileira". Para o ex-diretor, "um dos objetivos da operação era a destruição das grandes empresas de engenharia brasileira".
A partir daí começou o desmonte, segundo ele. Acabou o esquema da Petrobras como operadora única e abriram-se as portas de exploração para empresas estrangeiras, quebrando "um dos pilares da reindustrialização brasileira".
Transição energética: ocaso do petróleo?
"O petróleo não vai acabar, muito menos por falta de petróleo. A transição energética nasce com o argumento de preservação ambiental, de que o uso de combustíveis fósseis provoca aquecimento global. Mas muita coisa vem da expansão urbana, do desmatamento", ponderou Estrella.
Ele enfatizou que o Brasil possui uma matriz energética equilibrada, podendo permitir-se investir em petróleo: "Não podemos deixar que a bandeira da transição energética nos impeça de fazer o desenvolvimento a que temos direito. Os países que advogam pela transição se construíram com petróleo. São eles, então, que devem fazê-la, não o Brasil".
Por isso, o ex-diretor da Petrobras estima que o consumo de petróleo não vai cair. Pelo contrário, tende a aumentar para suprir a demanda dos países pobres e emergentes que começarão a investir no desenvolvimento industrial.
"Eu sou favorável à transição, mas feita pelos países desenvolvidos, EUA, China, e que seja feita alinhada ao combate ao desmatamento, urbanização excessiva e desperdício", reforçou.
Estrella, portanto, voltou a ressaltar a importância de restituir a Petrobrás como impulsionador da economia e do desenvolvimento brasileiro: "Todas as potências industriais mundiais construíram seu poderio industrial e tecnológico com base em energia. É um pilar para a industrialização, com gestão nacional, protegendo o mercado nacional e o consumidor brasileiro".
Fonte: Opera Mundi
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Comentários
Por Paulo Antônio Dias Fagan* (10/11/2016)
Tenho visto muitos comentários sobre a derrocada da dita esquerda mundo afora, mas será que os interesses são iguais em todos os países? Esquerda e direita são iguais mundo afora?
Como coincidência entre ambos os discursos faltou o artigo citar o projeto para facilitação dos armamentos em geral.
Vejamos. Nos EUA, a direita, ou a extrema-direita de Donald Trump, defendeu o fechamento de fronteiras e a nacionalização de produtos, inclusive com sanções a estrangeiros e possível quebra de contratos de livre-comércio com alguns países. Já no Brasil, a direita defende justamente o contrário, com a abertura completa ao capital estrangeiro, pautada pelo neoliberalismo, e é acusada pela esquerda de entreguista.
Parece-me que se Trump fosse candidato à presidência do Brasil, estaria defendendo a exploração do Pré-sal por empresas nacionais. Não aceitaria a interferência estrangeira...
Em entrevista de John Bolton insere num contexto geopolítico específico: a competição entre Estados Unidos e China e a questão da tecnologia de 5G no Brasil. Ao ser questionado sobre o avanço chinês na região, Bolton menciona a possibilidade de o Brasil permitir a entrada de empresas da China para operação de tecnologia 5G.
A demonização das empresas chinesas de telecomunicações é um tema que une Democratas e Republicanos para bloquear a competitividade da gigante asiática.
A ordem é privatizar tudo e deixar seus tataranetos ricos, além do mais vão garantir o poder por anos tendo o apoio dessas multinacionais e a elite vendida achando que é amiga do rei até essa casta vai pagar a conta, esse sociopata tudo pode inclusive com apoio do FHC.
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Então, para evitar que o projeto nacional prospere vem a necessidade de derrubar ou pelo menos inviabilizar governos que tenham a ousadia de trilhar caminho desse tipo.
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Quando não conseguem derrubar o governo inconveniente via golpes de Estado ou bombardeios seguidos de grandes morticínios, os países ricos partem para os bloqueios políticos, comerciais, econômicos criminosos, brutais, como os que vêm impondo há mais de 60 anos a Cuba, há menos tempo à Venezuela, ao Iran e outros países.
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Concluindo, ouso afirmar que os comunistas (sic) do PT foram derrubados não pelos seus erros, que não foram poucos, mas, pelos seus acertos. E o geólogo Guilherme Estrella está corretíssimo quando afirma que “o golpe acabou com a Petrobras”. A nossa grande empresa estatal não era o único alvo do golpe, mas era um dos principais.
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Em tempo, os “comunistas” do PT estavam tentando desenvolver o capitalismo brasileiro.
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Tal projeto nacional de desenvolvimento, ainda que bastante tímido, que tinha na Petrobras seu principal sustentáculo, tinha que ser inviabilizado. Os países ricos do primeiro mundo nunca admitiram que os países pobres ousassem implantar projetos nacionais, autônomos, de desenvolvimento.
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Hoje, com a crise brutal em que se encontra o sistema capitalista, os países ricos não podem permitir nem mesmo que um projeto nacional bem tímido como o implementado pelo PT possa vicejar.
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Ao implementarem projetos próprios, soberanos, de desenvolvimento, países como o Brasil, a Argentina, o México, a Venezuela, a Colômbia e outros, que dispõem de enormes riquezas em seus territórios, podem, em poucas décadas, tornar-se perigosos e indesejáveis competidores num mercado já saturado, com excesso de produção e de demanda e que vai capengando cada vez mais.
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No meio do caminho houve erros, desvios, corrupção? Sim, houve tudo isso, problemas que deveriam ser atacados e minimizados o quanto possível, vez que não é tão simples eliminá-los. Contudo, não demorou muito tempo depois do golpe de 2016 para constatarmos que não foi por causa da corrupção, dos erros e dos desvios que a turma do PT foi derrubada.
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Obedecendo aos centros do poder capitalista mundial [Estados Unidos à frente], onde foi projetado o golpe - apenas mais um de tantos lá engendrados ao longo de décadas - o desgoverno de MiShell Temer começou a desmontar o projeto nacional de desenvolvimento tocado pelos governos do PT.
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Continua