O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo e o segundo maior exportador. Essa produção exige a utilização de fertilizantes e hoje 85% desses produtos são comprados no mercado internacional, sendo que a Rússia é um dos maiores fornecedores do insumo para o agronegócio brasileiro. Esse foi um dos principais motivos da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia no dia 15 de fevereiro. O Brasil chegou a esse atual nível de dependência, principalmente porque a Petrobrás fechou uma unidade e vendeu três das fábricas de fertilizantes que tinham no país. Essas decisões fazem parte do processo de desintegração da Petrobrás em curso desde setembro de 2016.
Por esse motivo o Brasil se encontra em uma situação delicada em relação à guerra na Ucrânia. Em reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o embaixador brasileiro Ronaldo Costa Filho reafirmou o voto do Brasil condenando o conflito, mas alertou que sanções econômicas de Europa e Estados Unidos mais o envio de armas para a Ucrânia podem piorar a situação. Bolsonaro, por outro lado, continua defendendo que o Brasil adote uma posição neutra em relação ao conflito.
Deyvid Bacelar, Coordenador Geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), destaca que nesses momentos de crise, como uma guerra, fica mais evidente o alto nível de dependência do Brasil de outros mercados. “Dependemos da importação de fertilizantes principalmente da Rússia, que antes a Petrobrás produzia em Sergipe, Bahia e Paraná. Da mesma forma, a política de preços dos combustíveis, a privatização e subutilização de nossas refinarias, vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo. Há alguns anos, chegamos à autossuficiência em extração e quase nos tornamos autossuficientes no refino. Cada vez mais, o consumidor e o próprio mercado interno vêm percebendo que privatizar setores estratégicos do Estado tem impacto direto na soberania nacional”.
Gerson Castellano, petroquímico e diretor da Federação, lembra que a FUP, desde 2015, fala sobre o risco de o Brasil ficar na dependência externa, principalmente de países que com instabilidades políticas. “Sabemos que qualquer conflito internacional nestas regiões que têm petróleo e gás causam impacto no Brasil. No caso dos fertilizantes, a Petrobrás arrendou a Fafen da Bahia e do Sergipe para a Unigel, que vem priorizando exportações de amônia a produzir ureia no país”, observou ele.
Castellano enfatiza – também – que a produção de fertilizantes é estratégica para o país. “Comer é algo que independe de crenças. O ex-presidente dos EUA, George Bush, disse certa vez: ‘Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para sua população? Seria uma nação exposta às pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional’. Esta fala é do Bush, um liberal. A questão alimentar é estratégica e extrapola ideologias”, completa o diretor da FUP.
A saída definitiva da Petrobrás do setor de fertilizantes foi anunciada pelo governo Bolsonaro em 2019.
Nos últimos anos, o Brasil aumentou sua dependência de importação para suprir o mercado doméstico, enquanto suas unidades de fertilizantes permanecem desativadas. Segundo dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica FUP, o Brasil gastou ano passado US$ 15,2 bilhões em importações de adubos e fertilizantes químicos. O valor é 90% maior do que o gasto em 2020. Foi o produto mais importado entre os itens da categoria “indústria de transformação”. O país adquiriu no exterior 41,5 milhões de toneladas de fertilizantes – incremento de 22% nas quantidades –, a preço médio de US$ 364,34 por tonelada, 56% acima dos valores pagos em 2020.
A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobrás no Paraná (Fafen-PR), em Araucária, está fechada desde março de 2020. Esta era responsável pela produção de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia e 65% do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas.
A Fafen-BA – cujo principal produto são amônia, ureia, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32) –, foi hibernada em 2018 e arrendada à Proquigel, subsidiária da Unigel, em 2020, bem como a Fafen-SE, produtora de ureia fertilizante, ureia para uso industrial, amônia, gás carbônico e sulfato de amônio (também usado como fertilizante). No último dia 4 de fevereiro, o grupo russo Acron comprou a fábrica de fertilizantes da Petrobrás em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que está com mais de 80% das obras concluídas. Essa última, quando começar a operar, terá capacidade de produzir 3.600 toneladas de ureia e 2.200 de amônia por dia.
Posicionamentos da Petrobrás sobre fertilizantes
Janeiro de 2014 – Somos a maior produtora de fertilizantes nitrogenados do Brasil. Com a aquisição da Fafen-PR, reforçamos essa área em alinhamento com o Plano de Negócios e Gestão 2013-2017. Possuímos mais duas fábricas: a Fafen-SE, com capacidade de produção de 657 mil toneladas/ano de ureia e 456 mil toneladas/ano de amônia, e a Fafen-BA, com 474 mil toneladas/ano de ureia e 474 mil toneladas/ano de amônia.
Atualmente, estamos investindo em novas unidades a fim de acompanhar o crescimento do mercado. Em Três Lagoas (MS) está sendo construída uma planta que entrará em operação em setembro de 2014 com capacidade para produzir 1,2 milhão de toneladas/ano de ureia. No município de Laranjeiras (SE), está sendo construída uma planta de sulfato de amônio com capacidade para produzir 303 mil toneladas/ano, que começará a produzir ainda este ano. Duas outras unidades, uma em Uberaba (MG) e outra em Linhares (ES), estão em estudo.
Março de 2018 – Até o final do primeiro semestre deste ano, as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, e de Sergipe (Fafen-SE), na cidade de Laranjeiras serão hibernadas. A iniciativa faz parte do processo de saída integral da produção de fertilizantes, conforme anunciado pela companhia em setembro de 2016.
Agosto 2020 – Concluímos a transmissão de posse para o arrendamento das fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA) e de Sergipe (Fafen-SE) para a Proquigel Química. Esta é a última etapa para a transferência de controle dos ativos, após as licenças e autorizações exigidas pelos órgãos reguladores. Além das fábricas, o acordo inclui a promessa de subarrendamento dos terminais marítimos de amônia e ureia no Porto de Aratu, na Bahia.
Fonte: FUP
Comentários
De acordo com a chancelaria oficial, Bolsonaro foi a Rússia para adquirir fertilizantes e vender a UFN-III MS, porém o lado obscuro foi a presença do vereador Carlos Bolsonaro que faz parte do gabinete do ódio na comitiva, a PF apontou que essa investigação se dá num contexto de outras investigações que apontam que canais bolsonaristas nas redes sociais atuam com o objetivo de diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira. E usam como estratégia ataques aos veículos tradicionais de informação. Esse método também foi aplicado na campanha contra as urnas eletrônicas...
O senador Randolfe Rodrigues recorreu ao STF, a suspeita do senador é que os dois possam ter ido à Rússia para obter informações a respeito do aplicativo Telegram.
O ministro Alexandre Moraes quer que a Presidência informe “as condições oficiais de participação de Carlos Bolsonaro, vereador pelo Município do Rio de Janeiro, na comitiva presidencial que realizou a referida viagem internacional, inclusas as informações sobre os gastos realizados e eventuais diárias pagas, bem como a agenda realizada”.
Para fazer mais uma propaganda política, o cargueiro da FAB proveniente de Varsóvia com os refugiados fará uma escala desnecessária em Brasilia para constar da próxima campanha eleitoral.
Também a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (União Brasil) que é cotada para ser vice de Bolsonaro, afirmou que o Brasil tomou uma decisão equivocada ao paralisar a produção nacional de fertilizantes usados em lavouras...
Ainda durante este governo, a Petrobras vendeu a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para o grupo empresarial russo Acron. A planta estava em fase de construção. O anúncio da venda foi feito pela própria ministra Tereza Cristina, em fevereiro deste ano.
Causa perplexidade o grau de ignorância e despreparo técnico dos ministros que já saíram neste desgoverno, e os que ainda estão lá, lembrando que não foi por falta de avisos, e um total desconhecimento logístico no qual se privilegia os acionistas em prejuízos para o país, lembrando que a FAFEN do Paraná dispensou em torno de mil trabalhadores.
Um pais que pretende ser soberano jamais deve depender de outros em areas estrategicas inclusive ligadas a segurança alimentar.