foi mais um banho de água fria na indústria naval brasileira, que vem nos últimos anos batendo na tecla de que é preciso rever a política de conteúdo local no país. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), a parcela da população brasileira beneficiada pelo setor no Brasil era de quase 1,7 milhão de pessoas no final de 2014. Com as mudanças na política de conteúdo local e a extinção de encomendas importantes nos estaleiros brasileiros, esse número caiu para 300 mil em 2020, um sonoro tombo de 82%. Por isso, o Sinaval e outras entidades ligadas ao setor de óleo e gás resolveram acertar o tom e pedir em coro a criação de um programa de revitalização da indústria naval nacional.
A ideia foi muito debatida durante o Workshop de Conteúdo Local da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realizado recentemente pelo órgão regulador. A assessora jurídica do Sinaval, Daniela Santos (foto), que representou a entidade no evento, defendeu que a ANP endereçasse ao Ministério de Minas e Energia, e a outras pastas do governo federal, a necessidade de reativar o extinto Pedefor – Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural. O programa, como se sabe, foi encerrado em 2019, no final da gestão do governo de Michel Temer.
O Pedefor tinha por objetivo elevar a competitividade da cadeia produtiva de fornecedores no País; estimular a engenharia nacional; promover a inovação tecnológica em segmentos estratégicos; ampliar a cadeia de fornecedores de bens, serviços e sistemas produzidos no país; ampliar o nível de Conteúdo Local dos fornecedores já instalados; e estimular a criação de empresas de base tecnológica. Era um fórum de diálogo formal entre o setor naval e o governo, que acabou sendo fechado, dificultando a apresentação dos pleitos dessa indústria.
Outra proposta apresentada pelo Sinaval seria a criação de um programa específico pensando na revitalização da indústria nacional de bens e serviços, um pouco nos moldes de operação do Reate – que é voltado ao estímulo à indústria de produção e exploração terrestre no país. “Acho que é tão importante ter uma mesa [fazendo referência às Mesas Reate] com todas as pessoas envolvidas, participando e escutando. Como nós vimos um desenvolvimento enorme do onshore por conta também desse tipo de comunicação mais direta, envolvendo todos os players, talvez fosse uma sugestão tentar fazer uma coisa [para o setor naval] nesse mesmo sentido”, comentou Daniela.
Segundo projeções apresentadas pelo Sinaval durante o evento, usando dados da própria ANP e da Abenav (Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore), o Brasil terá um demanda, nos próximos sete anos, de 39 plataformas de produção, 60 navios aliviadores, 117 embarcações de apoio marítimo. O investimento total estimado é de US$ 81,6 bilhões. Ja a produção nacional deve saltar de 3,7 barris por dia para cerca de 5,4 milhões de barris por dia em 2026.
Daniela lembra também do trabalho desenvolvido pelas empresas brasileiras entre 2003 e 2014, que permitiu esses ganhos de produtividade em toda a indústria nacional de óleo e gás. “Em alguns projetos de construção de FPSOs, por exemplo, além da conversão dos módulos, os cascos foram produzidos em quase sua totalidade no Brasil”, recordou. “Hoje, temos uma redução muito grande na produção de módulos e a integração deixou de ser feita no Brasil. [Esses módulos] são completados no exterior e precisam passar por complementação ou correção dentro do Brasil pelas empresas brasileiras”, completou. A assessora jurídica do sindicato defendeu ainda uma política de conteúdo local que tenha prazos bem definidos. “A ideia não é manter isso para sempre e sim construir algo que permita a competição”, finalizou.
O Superintendente de Conteúdo Local da ANP, Luiz Bispo, destacou que o pedido de um programa ao estilo do Pedefor não é uma bandeira levantada apenas pelo Sinaval, mas também por outras entidades ao setor de óleo e gás. “Um ponto comum de todas as apresentações de agentes externos [durante o workshop], dos operadores e dos fornecedores, foi o que vamos chamar de Pedefor. Mas poderia ser qualquer tipo de programa que tivesse os objetivos que o Pedefor tinha. Todos abordaram esse tema e sinalizaram com a expectativa de que um programa como esse voltasse à ativa no Brasil”, avaliou.
Bispo também disse que essa sinalização foi um resultado muito importante do workshop de conteúdo local e que o tema pode ser levado para ser discutido com o governo federal. “Isso já vai ser uma reunião, uma discussão com o MME, para apresentar esse fato, essa ressonância sobre esse ponto, que foi muito clara”, concluiu.
Fonte: Petronotícias
Comentários
NENHUM governo tem real compromisso com o país essas situações não se resolvem na canetada.
-
O histórico, bem resumido, da atuação dos governos brasileiros relativamente à Petrobras e à indústria petroleira desde 1995, que fiz no comentário que publiquei no dia 11, mostra exatamente o contrário. Os rumos trilhados por um país dependem, sim, de uma “canetada” dos governos.
-
Discordo também da afirmação: “NENHUM governo tem real compromisso com o país”. Ao longo da nossa história tivemos, sim, governos comprometidos com o país. Getúlio Vargas, João Goulart e parte dos governos militares tiveram esse compromisso. Creio que Juscelino e os governos do PT também mantiveram, em menor escala que os que citei acima, uma boa parcela de compromisso com o país.
-
Não estou a falar aqui de governos perfeitos, porque isto nunca existiu e nunca existirá. A trajetória da política, assim como dos governos, não é plenamente homogênea, retilínea, e sempre haverá falhas a apontar.
-
Continua
-
Quando cito os exemplos acima não estou a afirmar que eram governos feitos de anjinhos que teriam feito tudo certinho. Cito-os porque, em maior ou menor grau, dependendo de cada um, apostaram em um projeto nacional de desenvolvimento, audaz ou tímido, e colocaram o país nesse rumo.
-
E a trajetória desenvolvida pelo Brasil durante os governos que mencionei, mostra, claramente, que “as situações” são resolvidas, sim, na “canetada”. Ou seja, o rumo tomado por um determinado país depende, em enorme medida, do viés do governo que estiver a comandá-lo.
-
Continua
-
O rumo tomado pela Petrobras desde 1995 delineia muito bem os vieses dos governos que tivemos nesse período. Eleito para destruir o projeto nacional que vinha sendo construído desde a Era Vargas, FHC não tinha compromisso com a indústria, o patrimônio e as riquezas nacionais. Então, passou a privatizar tudo o que podia e colocou a Petrobras a comprar quase todos os seus equipamentos no exterior.
-
À maneira de FHC, Temer não teve e Bolsonaro também não tem o mais mínimo compromisso com a nossa nação. Daí que, desde 2016 a Petrobras voltou a comprar a maior parte de seus equipamentos no estrangeiro. Temer privatizou tudo o que pôde. Bolsonaro quer privatizar o que resta do que pertence ao povo brasileiro.
-
Continua
-
Temer assumiu via golpe de Estado para dar sequência à enorme destruição nacional perpetrada por FHC. Mandato-tampão, não conseguiu terminar o serviço sujo. Bolsonaro foi financiado e apoiado pelo grande capital para completar, em definitivo, esse serviço sujo.
-
Para terminar. Se observarmos como se desenvolveram outras áreas da vida nacional desde 1995 - educação, saúde, da economia, etc. – também vamos detectar os vieses dos governos que estiveram no comando do Palácio do Planalto.
-
Mostra clara de que a “canetada” resolve situações ou, no mínimo, para o bem ou para o mal, tem o pendor de encaminhar soluções.
-
Como empresa ainda sob o controle do Estado brasileiro, a Petrobras foi colocada a puxar o desenvolvimento do país – medida corretíssima -, inclusive das empresas privadas nacionais.
-
Os empregos e a tecnologia que, no governo FHC, eram gerados lá fora, passaram a ser gerados aqui dentro. Essa política do governo do PT possibilitou a geração de lucros também para o....setor privado brasileiro.
-
Mas, incrivelmente, por uma cegueira ideológica indesculpável, o empresariado privado nacional está a aplaudir o desmantelamento da Petrobras iniciado pelo governo corrupto, golpista e entreguista de MiShell Temer.
-
Desmantelamento que o governo do “Brasil acima de tudo” dá sequência, com o objetivo de terminar o trabalho sujo iniciado por Temer. Um slogan para lá de fajuto, portanto.
-
Continua
-
No governo mais corrupto e deletério que tivemos, o de Fernando Henrique Cardoso, a Petrobras comprava cerca de 20%, apenas, de seus equipamentos aqui no país. Assim, gerava empregos, tecnologia, impostos e lucros (para o setor privado, inclusive) nos países fornecedores.
-
Corretamente, o governo Lula praticamente inverteu os percentuais e a Petrobras passou a comprar mais de 80% aqui dentro. Foi a partir dessa medida que a construção naval do Brasil foi retomada e os polos navais do Rio de Janeiro, do Nordeste e do Rio Grande do Sul observaram um boom de crescimento.
-
Continua
-
Como empresa ainda sob o controle do Estado brasileiro, a Petrobras foi colocada a puxar o desenvolvimento do país – medida corretíssima -, inclusive das empresas privadas nacionais.
-
Os empregos e a tecnologia que, no governo FHC, eram gerados lá fora, passaram a ser gerados aqui dentro. Essa política do governo do PT possibilitou a geração de lucros também para o....setor privado brasileiro.
-
Mas, incrivelmente, por uma cegueira ideológica indesculpável, o empresariado privado nacional está a aplaudir o desmantelamento da Petrobras iniciado pelo governo corrupto, golpista e entreguista de MiShell Temer.
-
Desmantelamento que o governo do “Brasil acima de tudo” dá sequência, com o objetivo de terminar o trabalho sujo iniciado por Temer. Um slogan para lá de fajuto, portanto.
-
Continua
-
Esses empresários privados – muitos deles se têm como os bons, os inteligentes, os mais mais, que não precisam do Estado (da boca para fora, apenas) - estão a apoiar a demolição exatamente da empresa que representava um esteio para o crescimento deles.
-
Além de apoiarem a demolição da indústria nacional do petróleo, também não moveram um dedo para impedir o governo corrupto de Temer e sua maioria também corrupta no Congresso Nacional, de aprovarem a absurda, indecente, para dizer o menos, MP do Trilhão.
-
Aparentemente, o empresariado privado brasileiro, que tanto foi apoiado pelas empresas estatais, não vê problema algum na privatização de todas elas e que petroleiras estrangeiras se esbaldem em quase R$ 50 bilhões de subsídios anuais bancados pelo povo brasileiro.
-
É ou não é uma cegueira ideológica indesculpável?
-
Continua
-
Hoje, o polo naval de Rio Grande, aqui no meu Estado, que chegou a ter quase 24 mil funcionários, está às moscas. Após o golpe de Estado de 2016, Temer, em obediência aos governos Estados Unidos – origem do golpe -, impôs um projeto de demolição da Petrobras. Resultado: o polo minguou e está desativado.
-
Como Temer obrigou a Petrobras a voltar a comprar o máximo possível no exterior, os milhares de empregos se evaporaram. Mas, o empresariado privado já deu um jeito de dar um fim mais “nobre” para as instalações industriais.
-
De vez em quando, o polo tem servido de estacionamento para o gado que vai ser exportado e fica ali à espera da chegada dos navios que o transportará para outros países.
-
Então, agora tu já sabes qual governo aniquilou a indústria naval brasileira e sabes também por ordem de quem.
-
Continua
-
Para terminar, antes que tu me acuses de petista fanático, eu digo que nunca fui filiado a qualquer partido. Estou procurando apenas colocar um pouco de verdade em meio a tantas mentiras contadas nos últimos anos em nosso país.
-
Ajudei a eleger o Lula em 2002. Porém, já em 2006, estava insatisfeito com o governo do PT. Se, no 2º turno, tivesse uma outra força popular a disputar com o “Barbudo”, eu tinha votado nela.
-
Porém, o que havia do outro lado? Um tucano, louquinho para retomar o poder e completar o trabalho sujo, de destruição nacional, imposto por FHC de 1995 a 2002. Então, não tive escolha e votei no Lula.
-
E tornei a votar assim, em defesa contra os tucanos, em 2010 e 2014. Em 2018, como sabia que o verdadeiro projeto de Bolsonaro era completar a destruição iniciada por FHC e não completada por Temer, votei, com bem pouco ânimo no Haddad.
Agradeço pelos encômios. Servem de alento para que eu continue.
-
Penso que, tudo o que li, observei, debati e refleti, tudo o que sei – apensar de não ser tanto assim - devo tentar passar adiante. Não como uma forma de impor aquilo que penso, mas para instigar as pessoas a se envolverem mais com questões da política, da economia, etc.
-
Afinal, se a situação tá ruim, muito ruim, e tendendo a piorar ainda mais, sozinho eu não vou conseguir mudá-la. Eu preciso convencer mais e mais pessoas a se engajarem nas lutas pelas mudanças. É no coletivo que se consegue a força para isso.
-
Continua
-
Lembro de uma entrevista do linguista e filósofo Noam Chomsky. No final, o entrevistador chegou para ele e lançou uma pergunta ao filósofo, mais ou menos assim: “Bem, o senhor veio aqui e nos contou como funciona o mundo. O que fazer para mudar o que está aí?
-
Chomsky respondeu: “Junte-se, pois sozinho você não faz mais do que ficar se lamentando pelos cantos”.
-
Então, é no coletivo que poderemos operar as mudanças. Para isso, para formarmos esse coletivo e fazê-lo crescer e crescer, as pessoas precisam estar a par do que está acontecendo a sua volta, precisam se dar conta de que tudo tem a ver com elas também, com a satisfação das suas necessidades, para ficarem sensibilizadas a se mobilizarem.
-
Por fim, gostaria de ter mais tempo para expor minha opinião. Mas, na medida do possível, vou continuar a comentar aqui no sítio da Aepet.