Todos sabem da recusa dos militares brasileiros em funcionarem como capitães do mato para caçar escravos fugidos na época do Império. Os militares de hoje, ao contrário deles, estão perdendo a honra ao se tornarem capitães do mato do neoliberalismo econômico e da extrema direita. Uns poucos se salvam como nacionalistas e progressistas. Em geral se alinham com a política de escravização do trabalhador, iniciada por Temer e seguida por Paulo Guedes.
A ideia de que todo militar é nacionalista não passa de engodo. Cadê os nacionalistas das Forças Armadas que se opuseram à entrega da base de Alcântara aos Estados Unidos? Cadê os que se opuseram à venda da Embraer para a Boeing? Cadê os que se opuseram à entrega do pré-sal, antes nosso passaporte para um futuro desenvolvido, em favor de petrolíferas estrangeiras? Cadê os que defendem o investimento no submarino nuclear?
Não é difícil concluir que os militares brasileiros são totalmente ignorantes em economia. Sua maior influência é norte-americana. Derivada da Guerra Fria. O que sabem de economia eles aprenderam nos EUA, não com professores brasileiros progressistas. E os instrutores norte-americanos ensinam para eles o que os EUA não fazem, isto é, uma política fiscal-monetária neoliberal, que trava o nosso desenvolvimento econômico em nome do equilíbrio fiscal.
O presidente Geisel, ferrenho nacionalista, sabia bem disso. Fez uma política fiscal-monetária progressista usando a dívida pública, corretamente, para financiar o desenvolvimento do país. A maioria dos militares da atual geração são idiotas políticos; seguem a seita de Paulo Guedes, que nos deixa num beco sem saída, dado o preconceito imbecil de que o Governo, mesmo na recessão, não pode tomar dinheiro emprestado para financiar a retomada da economia e do emprego.
Como fato político, a ditadura era intolerável. Mas no campo econômico houve notável progresso. Realizou o II PND, o programa tripartite no setor petroquímico, a Ferrovia do Aço, o soberano Acordo Nuclear com a Alemanha, entre outras iniciativas inequivocamente progressistas. Programas sociais como PIS/Pasep e Funrural nasceram no governo militar. O atual governo do capitão cercado por generais não se compromete a construir nada, seja na área econômica, seja na área social. Sequer sabe como fazer. O Presidente, aliás, disse explicitamente que veio para destruir (principalmente os socialistas), e não para construir.
DISTORÇÃO NAS FA
Nem no Governo militar tivemos tantos militares no Governo. E deles não se exige nenhuma especialidade, fora a formação de caserna, para se tornar ministro ou alto funcionário. Sua função, inspirada no próprio Presidente, é dizer e fazer tudo ao contrário do que disseram e fizeram os governantes anteriores.
Faz parte da estratégia militar de cerco e destruição dos opositores. Não há agenda positiva. Tudo mais que se deve fazer o mercado livre faz!
O Presidente atual, que foi na origem um militar de baixo escalão, deve ter imaginado que, ao chegar a quatro estrelas, o oficial se torna automaticamente um sábio em tudo. Isso não dará certo. Aliás, já não está dando certo. O país está paralisado por falta de iniciativas. Numa democracia capitalista, o maior desafio para o administrador é promover emprego. Aqui, constituído por militares incompetentes com emprego garantido e aposentadoria especial, o militar no Governo simplesmente está ignorando o desemprego dos outros.
O país real está acumulando frustrações. Aqueles generais da reserva que foram levados a altos postos por simples oportunismo pensam exclusivamente nos seus cargos. Entretanto, o processo histórico não pára. Os da ativa, e em termos de força são eles que contam, devem estar incomodados com o fato de que o fracasso geral do Governo acabará sendo debitado ao conjunto das Forças Armadas, em face do colapso da economia e da explosão do desemprego.
Décadas atrás, o exército brasileiro assumiu o discurso da modernidade nacional social através do tenentismo. Agora, o que começou a ser construído por tenentes idealistas está sob ameaça de ser destruído por um capitão desqualificado.
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